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Sempre que oiço os críticos de Paulo Bento, dou-lhes total razão, mas logo acrescento a pergunta: e quem seleccionavas tu?

As pessoas ficam atrapalhadas, falam em Quaresma, Carlos Mané, até num tal de Tomané que joga no Guimarães, e eu pasmo...

Importam-se de repetir? Acham mesmo que a seleção nacional ficaria melhor com um Ruben Neves, um Adrien, um Eliseu?

Talvez valha a pena descer um pouco à terra, digo eu...

 

A realidade é dura, mas há que enfrentá-la, e a realidade é que, por mais convocatórias que cada um de nós faça, não alteramos a coisa.

Hoje, não há em Portugal jogadores suficientes para construir uma grande seleção, essa é que é essa.

O tempo em que éramos uma das seis ou sete melhores seleções do mundo já passou.

Não há jogadores como Figo, Rui Costa, Deco, Maniche, Sérgio Conceição, Paulo Sousa, Ricardo Carvalho, e mais alguns.

Com a excepção Cristiano Ronaldo, e uma ou duas vezes Fábio Coentrão, o resto da seleção vale pouco.

E não há substitutos que se vejam, por mais que puxemos pela cabeça.

 

Quem devia ser a dupla de centrais? Tire-se Pepe, Costa e Bruno Alves, e quem resta?

Neto? Nem joga sempre no seu clube...Vezo? Ouvi dizer que vai ser emprestado pelo Valência...

E nas laterais, se não jogar João Pereira, quem temos? André Almeida? Cedric? 

Passemos ao meio-campo: acham mesmo que Ruben Neves iria transportar-nos para o céu, com Adrien ao lado?

E quem tiravam? William?

 

Nani ainda mexe, mas Quaresma seria melhor, apesar de nem jogar no FC Porto?

E queriam Bebé, que não é titular no Benfica, ou Mané, que não é titular no Sporting?

Pois é, a realidade é dura.

Podemos criticar Paulo Bento, e eu também acho que ele não tem andado nada bem desde Novembro, mas será que um treinador diferente conseguia mudar o panorama geral de fraqueza?

 

Temos infelizmente todos de meter na cabeça que a nossa seleção caiu muito de qualidade, e por isso não vale a pena ter muitas aspirações.

Somos, e seremos nos próximos cinco ou dez anos, uma seleção mediana, como fomos nos anos 70 e 80, capaz de um inesperado brilharete, mas com uma qualidade geral muito fraquinha.

São as seleções medianas que perdem com as fracas, como ontem aconteceu com a derrota com a Albânia, e não conseguem vencer as grandes, como aconteceu no Mundial com a derrota com a Alemanha.

 

É triste mas é a realidade, e mandar embora Paulo Bento só vai alimentar a ilusão de que as coisas podiam ser diferentes.

Não podiam, nem serão. A mediania regressou, não há volta a dar-lhe.

O único conforto é que não somos os únicos.

Itália, Inglaterra, Polónia, Bulgária, Roménia, República Checa, e até a França e talvez em breve a Espanha, todas foram grandes seleções no passado, mas no presente não passam da vulgaridade.

É assim a vida, habituem-se.

 

publicado às 11:45

Os últimos 5 jogos não correram muito bem a Paulo Bento.

Com 3 jogos de preparação e 2 no Mundial, Paulo Bento conseguiu 2 vitórias, 2 empates e 1 derrota.

Se olharmos para o que é o seu trabalho na selecção, veremos que fez até agora 42 jogos no comando da equipa, o que o coloca como o 4º treinador com mais jogos.

Scolari é o primeiro, com 74 jogos pela seleção; segue-se Carlos Queiróz, com 49 jogos e Oliveira, com 44 jogos.

 

Mas, se verificarmos o indicador da "percentagem de vitórias", Paulo Bento caiu e já tem resultados piores que Oliveira.

Segundo a convenção internacional usada nestes estudos, para calcular a percentagem de vitórias, as vitórias valem 2 pontos e os empates 1.

Assim, Paulo Bento tem 24 vitórias, 11 empates, e 7 derrotas, o que dá um total de 59 pontos  (24x2 + 11) em 84 possíveis (2x42 jogos).

A percentagem de vitórias de Paulo Bento é pois de 70,2%.

Com esse resultado, ele é o quarto treinador no ranking de percentagem de vitórias, quando antes do Mundial começar era o terceiro, à frente de António Oliveira.

 

Veja aqui o quadro dos 6 melhores treinadores de sempre da seleção:

 

Manuel Luz Afonso - 20 jogos, 15 vitórias, 2 empates, 3 derrotas - percentagem de vitórias de 80%

Humberto Coelho - 24 jogos, 16 vitórias, 4 empates, 4 derrotas - percentagem de vitórias de 75%

António Oliveira - 44 jogos, 26 vitórias, 10 empates, 8 derrotas- percentagem de vitórias de 70,4%

Paulo Bento - 42 jogos, 24 vitórias, 11 empates, 7 derrotas - percentagem de vitórias de 70,2%

Luís Filipe Scolari - 74 jogos, 42 vitórias, 18 empates, 14 derrotas- percentagem de vitórias de 68,9%

Carlos Queiroz - 49 jogos, 25 vitórias, 16 empates, 8 derrotas - percentagem de vitórias de 67,3%

 

 

publicado às 11:42

Quem são os portugueses para acharem que vão ganhar 5-0 ao Gana?

É preciso ter um descaramento dos diabos para, depois de levar 4 bolachas da Alemanha, e não ter sofrido um KO dos Estados Unidos por milagre, ainda ter o atrevimento para achar que vamos golear o Gana!

Será que os portugueses têm andado a ver o mesmo Mundial que eu?

O Gana jogou muito bem contra os Estados Unidos, mas teve azar e perdeu, e jogou muitíssimo bem contra a Alemanha, e merecia ganhar mas empatou.

Ganhar ao Gana, com a equipa que temos? Deve ser piada.

Teremos muita sorte se não formos nós a ser goleados pelo Gana, e o mais provável é perdermos o jogo, pois jogamos muito pior que eles.

 

Aliás, o golo de Varela só serve para prolongar uma agonia que já se sente desde os 4-0 com que a Alemanha nos brindou.

É um golo que dá jeito para muita gente se iludir com essa disparatada hipótese, a de continuar, depois de vencer o Gana por não sei quantos.

Importam-se de repetir?

Será que ainda ninguém percebeu que ganhar, mesmo por 15-0, não vai servir de nada?

É evidente que Alemanha e Estados Unidos vão jogar para o empate, e assim passam ambos, sendo absolutamente indiferente o resultado do Portugal-Gana.

Sim, eu se fosse a eles também "combinava" empatar, e não me preocupava mais com o assunto.

Klinsman e Klose são amigos, a Alemanha fica em primeiro, os Estados Unidos em segundo, empate a zero, e não se fala mais nisso.

Há quatro anos, foi o que nós fizémos também, empatando 0-0 com o Brasil no último jogo, e deixando de fora a Costa do Marfim.

 

A dura verdade é esta: ao final de quatro jogos, pode-se dizer que Portugal é a pior equipa do seu grupo.

Fizemos uma exibição miserável contra a Alemanha, e apenas sofrível contra os Estados Unidos.

Temos uma defesa que mete água, um meio-campo amorfo, e um ataque irregular.

Quando nos comparamos com os outros, saímos naturalmente a perder, e por isso não deve ser surpresa para ninguém o regresso a casa.

 

Temos todos de meter na cabeça que o ciclo de ouro da Seleção Nacional há muito que acabou.

Desde 2008 que temos vindo sempre a descer de qualidade, e a única surpresa foi o Euro 2012, onde conseguimos ser inesperadamente bons.

No resto, têm sido qualificações sempre em esforço, nos play-offs (2008, 2010, 2012, 2014), e fases finais fraquitas (2008 e 2010) ou muito fracas (2014).

A seleção não tem grandes jogadores ao seu dispôr, o talento é pouco, e ter Ronaldo não chega.

Para mais, este ano chegámos ao Brasil com demasiados jogadores fora de forma ou lesionados.

Pepe, Coentrão, Meireles, Veloso, Hugo Almeida, Hélder Postiga, Nani, Ronaldo, já estavam "chochos" quando aterraram em Campinas e só pioraram.

Como é que se pode aspirar a alguma coisa quando metade dos titulares deviam estar na enfermaria e não no campo?

 

Cristiano Ronaldo tem razão: há selecções muito melhores que nós.

Na verdade, são quase todas melhores que nós. Tirando os Camarões e a Coreia do Sul...

Lamento é que esse discurso de humildade não tenha sido feito por todos desde que se juntaram em Óbidos.

É pena que todos (incluindo Federação e Paulo Bento) tenham andado a "viajar na maionese", iludindo-se a si próprios e a nós.

Mas, num país que andou tanto tempo a viver acima das suas possibilidades, não é de estranhar que também a seleção tenha andado a viver claramente acima das suas possibilidades.

publicado às 12:01

Hoje, os jornais dão conta de uma grande indignação que vai pelas bandas de Campinas.

Segundo consta, ninguém gostou das afirmações de Mourinho sobre o Portugal-Alemanha, e tudo rosna baixinho contra o "special one".

Dirigentes, treinador, equipa técnica, jogadores, elegeram-no agora como o tipo mau, e destilam ódiozinho contra ele.

Lamento dizer à Seleção que Mourinho tem toda a razão, e quem em vez de o odiar, a Seleção devia refletir no que ele disse.

 

E o que disse Mourinho?

Primeiro, que não esperava um resultado tão mau, uma derrota por 4-0. Nisso, não se distingue em nada dos tais 15 milhões de portugueses.

Depois, criticou fortemente Pepe, dizendo que ele, ainda por cima não sendo nascido em Portugal, devia sentir mais pressão para se portar bem.

Meus amigos, conheço muito português que acha que Pepe não mais devia jogar pela Seleção Nacional, devido ao seu vergonhoso comportamento.

Mourinho não foi tão longe, mas como foi o único comentador que não apaparicou Pepe, ou não disse mal do árbitro, todos o odeiam em Campinas.

É mais um sinal de que o juízo da Seleção se está a perder muito rapidamente.

 

Mas, Mourinho foi ainda mais longe e tocou com o dedo na ferida.

Portugal, em fases finais, não tem marcado golos às grandes equipas.

Foi assim no Mundial 2010, ficou a zero contra o Brasil e contra a Espanha.

Foi assim no Euro 2012, ficou a zero contra a Alemanha e contra a Espanha.

Voltou a ser assim este ano, a zero contra a Alemanha.

Ora, isto significa que a equipa não é capaz de mais, vence adversários mais fracos, mas não vence os mais fortes.

 

É isto motivo para odiar Mourinho?

Não, ele apenas constata a verdade.

Porém, se há coisa que os portugueses odeiam é a verdade.

Os portugueses vivem o futebol em negação, negam a verdade constantemente.

Acham que são óptimos, sonham, e depois quando a dura realidade lhes bate à porta, a culpa das derrotas é do árbitro, nunca nossa. 

 

Ainda bem que Mourinho fala a verdade, diz a verdade, pois isso só mostra que percebe imenso de futebol.

Infelizmente para todos nós, na Seleção está tudo a viver em estado de negação, e ainda há gente que acha que temos equipa para ser campeã do mundo.

Pois...Ponham os olhos na Espanha e vejam o filme que nos pode acontecer no Domingo.

publicado às 11:33

Há quatro anos, também a Argentina de Maradona levou 4 da Alemanha, nos quartos-de-final do mundial na África do Sul.

O primeiro golo foi logo aos 3 minutos, por...Muller, mas depois a história foi um pouco diferente.

A Argentina foi tentando, e na última meia hora arriscou demais, jogou aberto e...lixou-se.

A Alemanha marcou 3 golos e arrumou para sempre com a carreira de Maradona como treinador.

 

Esta recordação devia ter servido como lição para Portugal, na abordagem do jogo de ontem.

Contra a Alemanha, só vence quem defende muito bem, fechado lá atrás, como a Itália, em 2012, ou a Espanha, em 2010.

Paulo Bento não aprendeu essa lição nos jogos dos outros, nem no seu próprio jogo contra a Alemanha.

Há dois anos, perdemos por 1-0, o que não foi nem fatal, nem humilhante.

Desta vez, tudo foi diferente, e tudo começou com uma péssima escolha de estratégia.

Portugal quis discutir o jogo de igual para igual, e com a Alemanha isso é sempre fatal.

Em vez de jogarmos fechados, a deixar o tempo passar, armámo-nos em carapaus de corrida e tramámo-nos.

 

Mas, esse não foi o único erro grave.

Olhando para a nossa equipa, é impressionante constatar que mais de metade dos 11 tiveram imensos problemas físicos nos últimos meses.

Pepe esteve lesionado, Coentrão e Hugo Almeida também, Meireles idem, Ronaldo é o que se sabe e Nani quase não jogou em seis meses.

Faz algum sentido entrar em campo com tantos problemas físicos e tanta falta de ritmo?

Pepe, Coentrão, Meireles e Hugo Almeida não deviam ter jogado, e Ronaldo e Nani só devem jogar porque sem eles não somos nada.

 

Se juntarmos estes dois erros - a estratégia aberta e a debilidade física - percebemos que Paulo Bento desta vez errou em toda a linha.

Depois, a somar a isso, apareceram os erros individuais, alguns escandalosos e incompreensíveis.

Rui Patrício: dois pontapés oferecidos aos alemães, que só não deram golo por milagre, e uma fífia que deu a Muller o 4-0.

João Pereira: uma falta clara, que deu um penalty.

Bruno Alves: comido no 2-0 no ar, comido no 3-0 no chão.

Pepe: comido no 2-0 no ar, cabeçada a Muller e expulsão.

Coentrão: uma nulidade no ataque e na defesa.

André Almeida: uma fífia no 4-0.

Miguel Veloso: uma nulidade absoluta.

Raul Meireles: outra nulidade absoluta.

João Moutinho: o seu pior jogo de sempre na selecção.

Na verdade, foi a malta do ataque a única que esteve razoável, sobretudo Nani, mas também Ronaldo e Éder tentaram lutar.

 

E agora?

Bem, além de todas estas falhas, houve ainda uma falha clara de informação.

Será que na seleção alguém sabe que o primeiro critério de desempate é o "goal average" e não os resultados entre as equipas?

Sofrer 4 golos e não marcar é um passo na direção do abismo.

Agora, não existe apenas a pressão de ter de ganhar aos Estados Unidos, existe também a obrigação de marcar vários golos, pois eles têm +1, e nós temos -4, no goal average.

Eu sei que ainda é cedo, que se ganharmos os dois jogos seguimos em frente e essas tretas todas, mas depois da maior derrota de sempre, as coisas ficaram mesmo pretas.

Até ontem, o Top 3 das derrotas humilhantes de Portugal eram o Portugal-Marrocos em 86 (1-3); o Portugal-Coreia, em 2002 (0-1); e o Portugal-Estados Unidos, em 2002 (2-3), mas esta derrota entrou directamente para o primeiro lugar.

Mesmo que Portugal avance para a fase seguinte, o que eu acho muito difícil, esta nódoa já ninguém a tira da nossa memória. 

publicado às 12:34

É este o dia porque todos esperamos há meses.

O dia em Portugal entra em campo, no Mundial do Brasil.

Este é o dia com que todos sonhámos, e agora está aí, a hora aproxima-se.

 

Hoje, às 17h, tudo pode começar a ser lindo, ou tudo pode começar a ser difícil.

Mas, pelo menos Ronaldo está em forma, sente-se bem.

Quem tem na sua equipa o melhor jogador do mundo, tem direito ao sonho, direito à esperança.

 

Gostei de ouvir Ronaldo ontem há noite.

Antes, ele era um miúdo, um jovem, um ser irreverente.

Mas, cresceu, e hoje está diferente. Já é um Homem, com H grande, amadureceu, sabe o que vale e sabe falar como um líder.

 

Eu também sinto uma onda especial à volta desta seleção, embora não queira iludir-me demais.

No Brasil, não vamos jogar na nossa casa, mas vamos jogar em casa de amigos, a malta sente-se bem, e eles gostam de nós.

O sentimento é pois de esperança, de crença.

 

Sim, tenho os pés assentes na terra, mas como não são os meus pés que vão jogar, mas sim os do Ronaldo, a terra mexe-se quando ele corre, e portanto pode girar à volta do sol de outra forma.

Conseguirá ele tirar o planeta da órbita previsível, criar um mundo novo para nós? 

Ninguém sabe, é muito cedo, ainda quase nada começou.

 

Mas, sinto que o grupo de Campinas está muito unido, com um grande ambiente de equipa, e isso é o mais importante de tudo.

Por isso, como dizia o Torres antes do jogo com a Alemanha, em 85, eu digo o que ele disse e ficou para a história: "deixem-me sonhar"!

Sim, deixem-me sonhar, deixem-nos sonhar a todos, porque temos direito a todos os sonhos este ano.

publicado às 11:59

Ontem, Pinto da Costa veio dizer que Quaresma foi vítima de "insultos racistas", e por isso perdeu a cabeça.

Além disso, o presidente do FC Porto alegou que o jogador estava a ser prejudicado por ser cigano, pois muita gente não o queria ver na Seleção Nacional.

Terá razão?

Quanto à primeira parte, se houve ou não insultos racistas, não sabemos bem, mas pela forma como Quaresma perdeu a cabeça, é possível que tenham existido.

Porém, ele não agrediu ninguém, e confusão e gritos, não sendo bonitos de ver, não são comportamentos graves.

 

A segunda acusação de Pinto da Costa é mais séria.

Quaresma é discriminado na Seleção porque é cigano?

É essa a razão porque não é convocado?

Os preconceitos existem sempre, gostemos ou não deles, mas numa sociedade civilizada, e num desporto cuja organização internacional, a FIFA, tem o combate ao racismo como objectivo, seria inaceitável que Quaresma não fosse convocado só por ser cigano.

 

Como foi a história de Quaresma na Seleção Nacional até aqui?

Um pouco como a carreira dele, com altos e baixos, mas sem nunca assentar arraiais definitivos.

Nem com Scolari, nem com Carlos Queiroz, nem com Paulo Bento, ele se saiu muito bem.

Ao contrário de Ronaldo, Nani, Pepe, Coentrão, Moutinho, Rui Patrício ou mesmo Miguel Veloso, que começaram por ser jovens talentosos, mas acabaram titulares devido à sua consistência e compromisso, Quaresma nunca o conseguiu.

De vez em quando, lá apareciam uns fogachos na Seleção, mas rapidamente o jogador se eclipsava.

 

É evidente que, na sua carreira nos clubes, as coisas também não lhe saíram bem.

Com a excepção do FC Porto (da primeira vez e agora), Quaresma falhou quase sempre.

Falhou no Barcelona, no Chelsea, no Inter, e até no Besiktas, onde começou bem.

Quaresma, pode-se dizer, passou ao lado de uma grande carreira.

 

Muitos dizem que o que o estragou foi o seu comportamento, nos balneários, nos estágios, na vida privada.

Vaidoso, conflituoso, egocêntrico, mau colega, causador de distúrbios, foram tudo acusações que se ouviram.

Mas, terá sido mesmo assim, ou tudo não passou de um enorme e colossal preconceito contra um cigano?

Talvez um pouco das duas coisas.

O comportamento do jogador muitas vezes não foi o melhor, mas também acredito que muitas vezes ele foi prejudicado pelos preconceitos que existem contra os ciganos.

E é um pouco isso que se está a passar agora.

 

Parece-me evidente que, até Janeiro, o problema de Quaresma nem se colocava para Paulo Bento.

O jogador andava perdido pelas Arábias, e não contava.

Contudo, o regresso ao FC Porto e a sua excelente forma, mostraram que ele continua cheio de talento e energia.

Porque não convocá-lo?

Será que é assim tão complicado integrá-lo num grupo estável e bem liderado por Paulo Bento?

Por outro lado, na posição de Quaresma, falta-nos gente de qualidade.

Nani está lesionado e não sabemos se recupera, Danny não conta, Ivan Cavaleiro e Mané são muitos jovens, Bruma e Rafa estão fora de combate.  

Quem tem a seleção para aquela posição, além de Cristiano e Varela?

Pois é... 

Com falhas destas, seria uma aberração Quaresma ficar de fora do Mundial, e nesse caso eu próprio começaria a acreditar que há um preconceito claro contra ele, o que é grave.

Vamos esperar pelas convocatórias, para ver o que acontece.

publicado às 10:23

Ninguém dúvida do fantástico valor desportivo e económico de Cristiano Ronaldo.

Ontem, merecidamente, o presidente da República condecorou aquele que é o português mais mediático de sempre, o mais conhecido, e um dos que mais feitos conquistou.

Além disso, é também o português mais valioso do mundo, individualmente.

Há portugueses cuja fortuna é maior, como Amorim e outros, mas são proprietários de grandes empresas, não pessoas.

O nome Cristiano Ronaldo é aquele que mais ganhos gera em Portugal.

 

Há quem diga que ele vale 50 milhões de euros, há quem diga que vale mais, outros um pouco menos do que isso.

O valor total importa pouco, aquilo que sabemos é que é muito.

Cristiano é neste momento o segundo jogador mais valioso do mundo, com um valor de mercado que ronda os 100 milhões de euros.

Aufere o mais elevado salário pago a um jogador de futebol, 17 milhões de euros por ano.

Além disso, tem contratos individuais de imagem com várias marcas.

A Nike calça-o, por um valor que se aproxima dos 7 milhões de euros por ano.

Segue-se a Herbalife, num contrato com valores nunca revelados; e o BES, que expandiu muito a sua conta CR7 e os seus balcões em Espanha à conta de Ronaldo, captando em 2012 mais de 5 mil milhões de euros em depósitos.

Há ainda a Linic, e mais uns quantos patrocinadores individuais; aos quais há que somar as marcas relacionados com o Real Madrid (Emirates, bwin, Audi, Adidas, etc); as relacionadas com a Liga Espanhola (BBVA, Mahou, etc) e as relacionadas com a Seleção Nacional de Portugal (Tmn, Galp, Continente, Sagres, etc).

Para calcular o valor de Cristiano, temos ainda de incluir o seu valor mediático individual, com as páginas do Faceboo e do Twitter, com milhões de fãs, a valerem imenso.

Se tudo isto ultrapassa ou não os 50 milhões de euros anuais, é difícil de dizer, pois muitos destes contratos de patrocínio e páginas mediáticas não têm um valor contante, mas variável, dependendo do rendimento desportivo do jogador.

Mas, é provável que esse valor ande perto da realidade.

 

A única área que ainda não parece bem gerida na carreira de Ronaldo é a marca CR7, mais associada à sua imagem pessoal.

Começou por ser uma marca de lojas de roupas, geridas pelas irmãs, mas as coisas não correram bem, e não se podem considerar um sucesso.

Depois, há uma aventura na ligerie masculina, com uma imagem muito física, cheia de músculos, e que também não parece estar a ser bem sucedida.

Há ainda uma ideia para abrir um Hotel CR7 na Madeira, mas é cedo para tirar conclusões nesse área.

De qualquer forma, a marca CR7 não descola, e talvez falte a Cristiano Ronaldo uma associação a alguém mais profissional, para expandir esta linha de negócios.

Beckham, por exemplo, faz isso bem melhor que CR7, e por alguma razão a sua mulher Vitória um dia disse que ele não devia ser conhecido como "Golden Boy" mas sim como "Golden Balls". 

publicado às 11:22

Num estudo cujos resultados apareceram publicados em vários jornais, a escola de marketing IPAM concluiu que o Mundial de Futebol do Brasil terá um impacto de 200 a 609 milhões de euros na economia portuguesa.

Esta variação depende, como é óbvio, do sucesso da seleção no torneiro.

O estudo previa que, mesmo que Portugal não se qualificasse, o impacto mínimo seria de 200 milhões.

No entanto, como todos ontem podemos assistir, a equipa de Paulo Bento, com um fabuloso Ronaldo, eliminou a Suécia, e estará no Brasil.

Assim, a primeira etapa está ultrapassada, o que significa que, no mínimo, a seleção fará 3 jogos no Brasil.

Se ficar apenas na primeira fase, o estudo do IPAM conclui que o impacto será mesmo assim de 438 milhões de euros, contando com as receitas que geram o estágio e os jogos oficiais.  

A partir daqui, o impacto vai subindo, até chegar a um valor máximo estimado em 609 milhões de euros, caso Portugal seja campeão do mundo na final.

 

Como se chega a estes valores?

Segundo foi noticiado, o IPAM usa um modelo inglês, da UKSports, uma agência governamental inglesa.

Nesses modelos, há dois tipos de impactos que se devem levar em conta.

Os primeiros são os "impactos económicos directos": receitas dos jogos, receitas da federação, receitas das empresas de televisão durante a transmissão dos jogos, aumento de consumo durante os jogos, em restaurantes, bares e supermercados; ou despesas de viagens dos portugueses que vão ao Brasil e que voam na TAP e usam agências portuguesas para lhes marcar a estadia.   

É evidente que, sendo o Mundial no Brasil, as receitas de bilheteira dos jogos não são para Portugal, mas deve-se aqui contar com um ou dois jogos particulares, ainda em Portugal, que a seleção vai certamente jogar antes de partir para o Mundial.

As receitas que a FIFA distribui, depois do Mundial, também têm de ser consideradas, pois são receitas da Federação Portuguesa de Futebol, e aumentarão se a equipa chegar longe.

Haverá direito a prémios por resultados, e uma partilha das receitas televisas da FIFA, embora em Portugal esse seja um item com menos força, pois o país não representa uma grande audiência.

Mas, se pensarmos que em 2010 os direitos televisivos foram vendidos pela FIFA por 2,6 biliões de euros, alguma coisa cá chegará em 2014.

De seguida, temos de ver qual a receita adicional directa para as televisões que vão transmitir o Mundial.

Seja nas semanas antes dos jogos, seja durante as transmissões e todo o torneio, há sempre um crescimento adicional de receitas publicitárias, e que pode ser significativo. 

A estes benefícios, há que somar ainda o aumento dos consumos do portugueses durante a transmissão dos jogos.

É sabido que muitos vão a restaurantes, cafés e bares, ver os jogos e isso aumenta a receita desses locais.

Além disso, muitos organizam jantares ou encontros em casa, recebendo amigos, que trazem sempre cerveja, comidas, etc.

Há igualmente que contar com vendas adicionais de televisões, para ver os jogos; e mesmo com aumentos de despesas em deslocações, que se não houvesse jogo não existiam.

É evidente que alguma dessa despesa adicional seria feita mesmo que a Seleção não fosse ao Brasil, mas com Portugal presente, o impacto no consumo será certamente muito maior.

Por fim, há também que contabilizar as viagens. É provável que muitos portugueses rumem ao Brasil, para assistir a alguns jogos, e o façam utilizando empresas portuguesas, como a TAP ou agências de viagens. Esta despesa adicional, que só existe por causa do Mundial, deve ser acrescentada também.

 

Além dos impactos económicos directos, há que considerar os "impactos económicos indirectos". A despesa inicial que se faz com estes eventos, irá depois circular pela economia, gerando novos consumos.

Os donos dos restaurantes e bares, com o dinheiro extra devido a terem mais clientes durante o Mundial, se calhar vão celebrar comprando alguma coisa, ou comprando uma televisão nova lá para casa.

Assim, neste tipo de estudo, é costume aplicar ao "impacto económico directo" um multiplicador, para obtermos o "impacto económico indirecto".

Na maior parte dos casos, o multiplicador costuma ser próximo de 2.

Ou seja, se o "impacto económico directo" for 200 milhões de euros, o impacto total será de 400 milhões, sendo que 200 milhões são o "impacto económico indirecto". 

Olhando para o estudo do IPAM, podemos talvez considerar que, dos 609 milhões de euros previstos se Portugal for até à final, 300 seriam de "impactos económicos directos", e 300 de "indirectos", embora eu não tenha tido acesso aos critérios do estudo, e por isso esta seja apenas uma estimativa intuitiva.

 

São estes estudos fiáveis e credíveis?

Nos últimos anos, têm sido levantadas algumas objecções a este tipo de estudos, considerando que eles normalmente exageram os benefícios económicos, pois apenas captam os efeitos de aumento de despesa bruto, e não o aumento de despesa líquido.

Porém, neste caso, é evidente que a maior parte das receitas não existiria se não houvesse Mundial, e parece também óbvio que os consumos em restaurantes e supermercados não seriam certamente tão altos.

É claro que se deve considerar só a receita extra, a diferença entre um dia normal e um dia de Mundial, mas parece-me evidente que ela é grande.

E, no caso das viagens de portugueses para o Brasil, também só se devem considerar as viagens que foram propositadamente por causa dos jogos, e não as outras, que existiram na mesma sem Mundial.

Agora, se muitos portugueses não forem na TAP, mas em empresas de aviação brasileira, essa receita já não é portuguesa, e não deve ser considerada.

 

Em resumo: embora não saiba em pormenor os números que o IPAM usou, não me parece que os resultados do estudo estejam exagerados, e é provável que o impacto do Mundial em Portugal seja um acontecimento económico relevante em 2014.

Se serão 600 milhões, mais ou menos, depende um pouco da fórmula de cálculo usada, mas é provável que o número não ande longe desse. 

publicado às 12:05


Sobre o autor

Domingos Amaral é professor de Economia dos Desportos (Sports Economics) na Universidade Católica Portuguesa. É também jornalista e escritor e tem o blog O Diário de Domingos Amaral.

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oeconomistadabola@gmail.com

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