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Domingos Amaral
Depois do descalabro do FC Porto ontem em Sevilha, a que Quaresma chamou "uma vergonha", a pergunta que se deve colocar é: foi boa ideia mudar de treinador?
Muitos adeptos e comentadores do FC Porto disseram que Paulo Fonseca era péssimo, e que já devia ter saído há muito tempo.
E quase todos eles elogiaram Luís Castro pela sua postura e pelas suas escolhas.
Porém, os números são implacáveis, e com 11 jogos realizados pelo FC Porto, a verdade é que Luís Castro apresenta piores resultados que o seu antecessor.
Se observarmos a percentagem de vitórias, onde cada empate vale metade de cada vitória, temos que em 11 jogos, Luís Castro tem 7 vitórias, 1 empate e 3 derrotas.
A percentagem de vitórias de Luís Castro é pois de 68,1%.
Ora, no momento em que saiu, Paulo Fonseca disputara 35 jogos com o FC Porto, tendo obtido 21 vitórias, 7 empates e 7 derrotas.
A percentagem de vitórias de Paulo Fonseca era de 70%.
Ou seja, era melhor do que a de Luís Castro é.
Valeu a pena despedir o treinador?
Não.
É quase sempre assim quando se muda um treinador.
Os estudos feitos em várias universidades, sobretudo inglesas, concluem que raramente uma equipa melhora quando muda de treinador.
Por vezes, há uma ligeira excitação inicial nos primeiros jogos depois da chicotada, mas logo os resultados se degradam e no final as coisas ainda ficam pior do que estavam antes da mudança de treinador.
Este ano, há dois exemplos claros: o Tottenham e o FC Porto.
Em Londres, Tim Sherwood tem resultados bem piores que André Villas-Boas, e já há adeptos dos Spurs a pedir o regresso de AVB.
A mudança não trouxe qualquer benefício à equipa, que continua desmoralizada e a praticar mau futebol.
O segundo exemplo é o FC Porto, onde Luís Castro veio substituir um Paulo Fonseca mal amado pelos adeptos.
Mas, já com sete jogos, o FC Porto não melhora, nem sequer houve aquele efeito positivo da chicotada.
O registo de Luís Castro é, para já, pior que o de Paulo Fonseca quando saiu.
Em 7 jogos, Luís Castro conseguiu 4 vitórias, 1 empate e 2 derrotas.
A sua percentagem de vitórias, contando os empates a valerem metade das vitórias, é de 64,2%.
No momento em que saiu, Paulo Fonseca disputara 35 jogos oficiais aos comandos do FC Porto, em todas as competições.
Tinha obtido 21 vitórias, 7 empates e 7 derrotas.
A sua percentagem de vitórias era de 70%.
Portanto, a mudança de treinador não valeu de nada, pelo menos até agora.
E, desportivamente, o FC Porto piorou, pois viu o 2º lugar fugir-lhe, com as derrotas em Alvalade e na Madeira.
Veremos o que aconteçerá nas outras competições (Liga Europa, Taças de Portugal e da Liga), mas até agora Luís Castro está abaixo de Paulo Fonseca.
Há menos de um ano, Paulo Fonseca era o melhor jovem treinador de todos os tempos!
Em Maio, levara o Paços de Ferreira a um histórico 3º lugar no campeonato, e só perdera jogos contra Benfica e FC Porto.
Embora nunca tivesse ganho nada, nem na segunda liga nem taças, a carreira do Paços foi excelente, classificando-se o clube para o "play off" da Champions, e deixando o Braga a cheirar-lhe as canelas.
As pessoas examinavam os resultados do Paços e pasmavam.
Como era possível fazer tantos pontos, com tão pouco?
O valor do plantel do Paços era baixo, bem como a despesa salarial, mas a eficiência era elevadíssima.
Atingir uma impressionante percentagem de vitórias de 66,6% era um feito que só podia ser explicado, obviamente, pelo extraordinário talento de um jovem treinador, Paulo Fonseca, que ainda por cima parecia simpático, bem educado e "cool".
Era assim há 9 meses, apenas 9 meses, e Paulo Fonseca lá rumou ao Dragão para um bom contrato, e...o resto é história.
Relembro isto apenas para mostrar como é fácil construir mitos e fantasias sobre os treinadores.
No final da época passada, é bom recordar, o FC Porto despediu um treinador que lhe dera 2 campeonatos e 2 Supertaças.
Ninguém sabe bem porque partiu Vítor Pereira, mas talvez valha a pena fazer essa pergunta.
O que levou o FC Porto a trocar um treinador vencedor por uma jovem promessa?
Não sei, mas sei que o fez, e quando o fez todos esqueceram rapidamente os méritos de Vítor Pereira, que eram muitos, e desataram a descobrir méritos em Paulo Fonseca, exagerando-os.
Era mais um jovem Midas, era evidente que ia resultar.
Pois...
E porque não resultou Paulo Fonseca no FC Porto?
É evidente que terá cometido muitos erros, mas também é muito evidente que a qualidade deste plantel do FC Porto é bem menor.
Onde estão os génios como Hulk, Falcão, James Rodriguez, João Moutinho?
Não estão lá, e os que lá estão não têm o mesmo talento.
Quintero não vale um pé de James, e Quaresma não vale uma coxa de Hulk, e nem sequer vale a pena comparar Moutinho com aqueles rapazes que vagueiam pelo meio-campo...
Poderia Paulo Fonseca ter feito melhor?
Talvez sim, talvez não, mas duvido que conseguisse o que os seus antecessores conseguiram.
E é por isso que eu acho que Marco Silva devia refletir bem antes de dar um passo maior que a perna.
Tal como Paulo Fonseca o ano passado, este ano também todos os bem pensantes da bola consideram Marco Silva a melhor pepita de ouro do Oeste.
No entanto, e embora Marco Silva conte no currículo um título de campeão da segunda divisão com o Estoril, a verdade é que os seus resultados são...piores que os de Paulo Fonseca.
O ano passado, ficou em 5º com um plantel semelhante ao do Paços, que ficou em terceiro; e este ano está em 4º.
A sua percentagem de vitórias é de 53,3% na época passada, e de 66,6% este ano (tem 11 vitórias e 6 empates em 21 jogos).
Ou seja, nem no ano passado nem neste, Marco Silva foi melhor que o Paulo Fonseca do Paços.
E quais serão os jogadores que Marco Silva poderá contar na próxima temporada?
Se for para ficar com os mesmos que Paulo Fonseca, e se calhar sem Jackson, Fernando e Mangala, que têm muito mercado, o que poderá Marco Silva fazer?
O FC Porto precisa muito de se reforçar, a ainda muito mais se esses três jogadores saírem.
A qualidade dos recursos à disposição de Marco Silva terá de ser bem melhor.
Caso contrário, é muito elevado o risco do Dragão trucidar mais um "jovem treinador talentoso".
Os adeptos de futebol tem, cada vez mais, a estranha tendência de achar que despedir o treinador muda alguma coisa.
Não é verdade: a grande maioria das vezes não muda quase nada.
Sim, há excepções, mas são raras, eu diria mesmo raríssimas, sobretudo quando o despedimento é feito em fase tardia da época.
Despedir um treinador em Agosto ou mesmo em Outubro, ainda dá muito tempo ao seguinte para tentar melhorar as coisas.
Fazê-lo em Fevereiro é praticamente inútil, pois o novo treindador pouco tempo tem para trabalhar.
O despedimento do treinador é uma espécie de descarga psicológica colectiva, mas traz poucas melhorias reais.
Num estudo feito para a Premier League, a inglesa Sue Bridgewater mostrou que depois do despedimento há normalmente uma ligeira melhoria, mas ao fim de poucos jogos regressa-se ao ponto onde se estava antes, ou mesmo a um ponto mais baixo.
Quase sempre, o processo de despedimento implica a perda de oito ou nove pontos, e torna impossível qualquer recuperação.
E fica-se mais ou menos na mesma, como aconteceu recentemente com o Tottenham, que despediu Villas-Boas e três meses depois está na mesma posição em que estava.
O despedimento de um treinador pode criar uma ilusão, mas é normalmente uma falsa ilusão.
Na verdade, os recursos à mão do próximo treinador serão os mesmos, e os jogadores não melhoram de um dia para o outro, nem aprendem um novo sistema em poucos dias.
Em vez de despedir Paulo Fonseca agora, agarrando-se à fantasia de que ainda é possível ser campeão, o FC Porto devia talvez preparar a próxima época melhor do que preparou esta, e olhar para as evidentes lacunas e falta de qualidade do seu plantel, preparando um regresso em força.
Paulo Fonseca pode ter os seus defeitos e ter cometido erros, mas os adeptos do FC Porto têm de se lembrar que ele não tem Hulk, Falcão, James, Moutinho, Guarin, Alvaro Pereira, Lucho, e que os jogadores que tem são de muito menor qualidade.
Josué, Licá, Herrera, Carlos Eduardo, Defour, não têm pedalada para os voos a que ambiciona a equipa, e mesmo Quaresma é um salvador da Pátria tardio e problemático.
Sem jogadores talentosos, há pouco que se possa fazer.
A carreira de Paulo Fonseca tem sido boa? Não, é evidente que está muito abaixo do que se esperava.
Venceu a Supertaça, e ainda entrou bem no campeonato, mas depois começou a cair muito.
A Liga dos Campeões foi muito fraca, com 3 derrotas e apenas 5 pontos.
Porém, continua na Liga Europa, nas Taças de Portugal e da Liga, e no campeonato, embora o atraso seja importante, quem pode garantir que até ao final da época Benfica e Sporting não fraquejam também?
Os dois últimos anos dão razão a Pinto da Costa, que continua a querer manter Paulo Fonseca.
Também Vítor Pereira foi muito contestado, sobretudo na primeira época, e também ele andou muitos pontos atrás do Benfica, mas conseguiu recuperar e no final foi campeão dois anos seguidos.
A história pode não se repetir uma terceira vez, mas faz todo o sentido o presidente do FC Porto não ceder à pressão da rua.
Até porque, se examinarmos o histórico do FC Porto no que toca a despedimentos de treinadores, veremos que nunca essa solução deu bons resultados.
Em 2001/2002, Pinto da Costa despediu Octávio, e foi buscar Mourinho ao Leiria.
No entanto, o clube não foi campeão, e só conseguiu o terceiro lugar, atrás de Sporting e Boavista.
A mudança de treinador pouco alterou.
Também em 2004/2005 se verificou algo semelhante. Apesar de ter uma grande equipa, que fora campeã da Europa, a orfandade da saída de Mourinho causou grande perturbação, e o clude despediu Del Neri, e meses depois o seu substituto, Fernandez.
Couceiro, o terceiro treinador desse ano, também não conseguiu ser campeão, e ficou atrás do Benfica de Trapattoni.
Portanto, das últimas duas vezes que despediu treinadores, o FC Porto não ganhou nada com isso.
É pouco provável que este ano a história fosse diferente.
Em relação há meses atrás, o Benfica tem vindo a melhorar, o FC Porto estabilizou e o Sporting perdeu alguma eficência.
O indicador que aqui costumo usar é o das percentagens de vitórias, com cada empate a valer meia-vitória.
Dá-se 2 pontos por vitória, 1 por empate, e depois divide-se pelo máximo de pontos possíveis nos jogos já disputados.
Assim, o Benfica disputou 32 jogos, em todas as competições oficiais.
Tem 24 vitórias, 5 empates e apenas 3 derrotas (uma no campeonato e duas na Champions).
Soma 48 pontos pelas vitórias e mais 5 pelos empates, ou seja 53, num total de pontos possíveis de 64 (32 x 2).
A percentagem de vitórias do Benfica de Jesus é pois de 82,8%.
Melhorou um pouco em relação a Janeiro, quando tinha 82,1%.
Veremos agora como vai esta percentagem ser afectada pelo início da Liga Europa.
Quanto ao FC Porto, disputou 33 jogos, mais um que o Benfica, pois esteve na Supertaça.
Tem 21 vitórias, 6 empates e 6 derrotas (3 no campeonato e 3 na Champions).
Soma 42 pontos pelas vitórias, mais 6 pelos empates, ou seja 48 num total de 66 possíveis (33 x 2).
A percentagem de vitórias do FC Porto de Paulo Fonseca é pois de 72,7%.
Subiu um pouco em relação a Janeiro, onde estava nos 72,4%.
Também neste caso teremos de ver como vai ser afectada esta percentagem pela Liga Europa, e ainda não se sabe igualmente se o FC Porto vai ou não continuar na Taça da Liga.
Por fim, o Sporting, que é o que tem menos jogos disputados, apenas 24, pois não está nas competições europeias.
Tem 15 vitórias, 6 empates e 3 derrotas (2 para o campeonato e 1 na Taça de Portugal).
Soma 30 pontos pelas vitórias, mais 6 pelos empates, ou seja 36 num total de pontos possíveis de 48 (24 x 2).
A percentagem de vitórias do Sporting de Leonardo Jardim é pois de 75%.
Há que ter em conta que fez menos jogos que os rivais, mas também que desceu, pois em Janeiro este número estava nos 78,5%.
E está ainda pendente a questão da Taça da Liga, para ver se o Sporting continua só numa frente, ou abre uma segunda.
Em conclusão: o Benfica tem vindo a melhorar os seus números desde Outubro, o FC Porto quebrou muito até ao Natal, mas depois estabilizou, e o Sporting teve duas pequenas quedas, mas continua com bons resultados.
Ontem, Pinto da Costa atacou forte e feio o árbitro Artur Soares, pela sua prestação na Luz.
Hoje, o treinador Paulo Fonseca veio dizer que há uma "concertação de forças" contra o FC Porto, e a favor do Benfica e do Sporting.
Como de costume, o inimigo externo é o responsável por todos os males, seja ele o árbitro, seja uma nebulosa indefinida, formada não se sabe bem por quem.
Esta linha estratégica de ataque não é nada de novo, nem no FC Porto, nem nos outros clubes grandes, Benfica e Sporting, nem mesmo nos pequenos.
Em Portugal, é mesmo já um lugar comum, de uma banalidade confrangedora, esta postura de "vítima agressiva", de que se faz de vítima para logo atacar alguém.
Sempre que um clube tem maus resultados, dirigentes, treinadores e até jogadores, logo atiram as culpas para cima do árbitro, dos jornalistas, do sistema, dos comentadores, seja de quem for que esteja à mão.
O inferno, dizia Sartre, são sempre os outros, nunca nós. A culpa nunca é nossa, mas de terceiros que nos perseguem, maltratam e prejudicam.
Mas, será esta estratégia da "vítima agressiva" eficaz?
É evidente que esta é sempre uma estratégia vencedora junto dos próprios adeptos do clube.
Quando presidente e treinador começam a dizer o que disseram Pinto da Costa e Paulo Fonseca, noventa por cento dos adeptos adotam imediatamente esse discurso das vítimas das tenebroas maldades de terceiros.
Para juntar as hostes, e até para criar uma mentalidade de combate nos jogadores, esta estratégia e sempre bastante eficaz se for feita no timing certo.
E, neste caso, é este o momento de a levar à prática.
No passado, o Benfica não foi bem sucedido nesta estratégia porque a praticou tarde demais, só no final da época, onde ela já é inútil.
Mas, estamos a meio do campeonato, o FC Porto tem apenas 3 pontos de atraso do líder, e tudo é ainda possível.
Os ataques à arbritagem e ao sistema estão pois a ser feitos no momento certo pelo FC Porto.
Mas, será esta estratégia eficaz para fora, terá impacto no sistema, nos media, nas arbitragens?
É bem possível que sim.
Em Portugal, dá-se muita relevância às queixas de arbritragem, e às queixas de "concertação".
Quando um clube ataca o sistema ou os árbitros, os os jornalistas, a maioria dos outros árbitros, jornalistas ou comentadores têm tendência a alterar um pouco os seus comportamentos, para levar em conta as "queixas" dos queixosos.
A pressão que é feita pelos clubes - neste caso o FC Porto, mas noutros momentos os outros - tem eficácia, e os árbitros podem começar a ter menos coragem para tomar decisões difíceis, bem como os jornalistas podem ter menos vontade de fazer críticas.
A pressão cria uma "benevolência adicional" para com o queixoso, que pode traduzir-se em decisões ou ideias favoráveis a ele.
Portanto, do ponto de vista portista, fez sentido que Pinto da Costa e Paulo Fonseca façam estas pressões.
Os seus adeptos ficam com eles, e os árbitros e os jornalistas ficam um pouco condicionados, o que só pode ter efeitos positivos para os queixosos.
É esse um dos segredos do futebol português: quem se queixa, normalmente tem benefícios a posteriori!
E é a pensar nesses benefícios, que podem aparecer durante a segunda volta, que o FC Porto segue esta estratégia da "vítima agressiva".
Se há coisa que tem espantado nos últimos tempos no FC Porto é a gestão dos recursos humanos, leia-se jogadores.
Ao longo de décadas, o clube habituou as pessoas a uma gestão exímia, sem demasiadas turbulências.
Enquanto no Benfica e no Sporting havia casos e melodramas, no FC Porto parecia reinar sempre uma calma imperial, mesmo quando havia problemas.
Porém, nos últimos tempos, os erros sucedem-se, bem como as declarações de insatisfação de muitos jogadores.
Há os que saíram zangados e em conflitos, como Rolando, Atsu ou mais recentemente Fucile.
Há as apostas absurdas, como Liedson e Izmailov.
Há os capitães que não se sabe se vão ou não continuar no clube, como Helton ou Lucho.
Há os fenómenos que nunca explodiram e tiveram de ser emprestados, como Iturbe.
Há os que querem sair para melhor, embora admitam esperar, mesmo insatisfeitos, como Otamendi, Mangala ou Jackson.
Há os que querem sair já, por esta ou aquela razão, como Quintero ou Defour.
E há ainda Fernando, que não se sabe se vai renovar, e caso não o faça é uma perda total, pois termina o contrato em Junho e pode sair a custo zero.
No onze principal, por exemplo, tirando os laterais Danilo e Alex Sandro, o extremo Varela, e os recém-contratados Josué, Licá e Carlos Eduardo, quase todos parecem ter dúvidas se ficam ou não.
É evidente que, nos dias que correm, é quase impossível impedir os jogadores de falar em público, mas o somatório de todas estas declarações, dúvidas, zangas e falhanços, deixa uma impressão geral de perturbação e falta de concentração.
A ideia que dá é que o compromisso dos jogadores com o clube é menor, e que muitos estão com a cabeça noutro lado e insatisfeitos.
Pelos vistos, nem a estrutura consegue estabilizar os discursos e as expectativas dos jogadores, nem o treinador os consegue focar nos jogos.
Talvez por isso, a equipa não consiga jogar muito bem, e pareça desligada.
Pela primeira vez em muitos anos, o balneário do FC Porto não parece remar todo para o mesmo lado, e isso nota-se.
Ontem, logo depois da derrota na Luz, liam-se muitos comentários de portistas a pedir a cabeça de Paulo Fonseca.
A equipa não jogou bem, foi pouco ambiciosa, e a derrota foi justa, mas será que faz sentido despedir o treinador?
Em primeiro lugar, vamos examinar os resultados de Paulo Fonseca.
Venceu a Supertaça, contra o Vitória de Guimarães, único título que podia conquistar até agora.
Na Champions, teve fracos desempenhos: três derrotas, duas das quais em casa, dois empates e apenas uma vitória.
Foi uma das piores Champions de sempre do FC Porto, com apenas 5 pontos obtidos. A única consolação foi a ida à Liga Europa, que o terceiro lugar permite.
Na Taça de Portugal, o FC Porto venceu os 3 jogos que disputou e está nos quartos de final, e na Taça da Liga empatou em Alvalade, o que se pode considerar um bom resultado, pois é um campo onde normalmente o FC Porto tem dificuldades.
Mesmo o ano passado, a pior época de sempre do Sporting, o FC Porto não conseguiu vencer em Alvalade para o campeonato.
Por fim, no campeonato, o FC Porto está em terceiro, a 3 pontos do Benfica, e com menos 6 pontos que no ano anterior.
São resultados abaixo das expectativas, mas nada está perdido, e o clube está na luta pelo título, com a vantagem psicológica, embora distante, de receber os encarnados na última jornada.
Ao todo, Paulo Fonseca disputou 26 jogos, tem 15 vitórias, 6 empates e 5 derrotas.
Se dermos meio ponto a cada empate e dois a cada vitória, temos que Paulo Fonseca tem uma percentagem de vitórias de 69,2%.
É bem abaixo do que conseguiram os seus antecessores, Vítor Pereira e André Villas-Boas, mas o clube continua em quatro competições, e por isso não se pode dizer que é irremediável.
Será que o problema é o treinador, ou são os recursos que ele tem ao seu dispôr?
Como todos sabemos, são os jogadores que jogam, e a verdade é que este ano o FC Porto não tem tão bons jogadores.
Compare-se por exemplo com Villas-Boas, que tinha Falcão, Hulk, James, Moutinho e Álvaro Pereira, e rapidamente temos de aceitar que este ano a qualidade é bem menor no Dragão.
A substituição das peças não foi executada com mestria, e Josué, Licá, Carlos Eduardo, Herrera ou Ghilas, não estão ao mesmo nível dos jogadores que saíram nos últimos dois anos.
Sem ovos não se fazem omeletes, e por melhor que Paulo Fonseca fosse, a verdade é que os recursos que tem à sua disposição não são brilhantes.
Por mais apelos que se façam à vontade, à raça, à força mental, se não houver talento, nada se consegue.
Ao FC Porto falta este ano talento, e não me parece que o regresso de Quaresma chegue para suprir essa falha grave.
E sem jogadores talentosos, não há muito que Paulo Fonseca ou outro, possam fazer.
Mas, mesmo assim, não seria melhor ir buscar um treinador com mais garra, mais ambicioso?
Para responder a essa pergunta, vamos examinar o histórico do FC Porto em despedimentos de treinadores.
Em 2001/2002, Pinto da Costa despediu Octávio, e foi buscar Mourinho ao Leiria.
No entanto, o clube não foi campeão, e só conseguiu o terceiro lugar, atrás de Sporting e Boavista.
A mudança de treinador pouco alterou.
Também em 2004/2005 se verificou algo semelhante. Apesar de ter uma grande equipa, que fora campeã da Europa, a orfandade da saída de Mourinho causou grande perturbação, e o clude despediu Del Neri, e meses depois o seu substituto, Fernandez.
Couceiro, o terceiro treinador desse ano, também não conseguiu ser campeão, e ficou atrás do Benfica de Trapattoni.
Portanto, das últimas duas vezes que despediu treinadores, o FC Porto não ganhou nada com isso.
É aliás essa a conclusão dos estudos universitários que têm sido feito nos últimos anos sobre as "chicotadas psicológicas".
Sue BridgeWater, uma das maiores especialistas no assunto, conclui que depois do despedimento há uma pequena lua de mel, e os resultados melhoram, mas ao fim de cinco ou seis jogos regressam os problemas, e a equipa fica normalmente num ponto semelhante ao que estava antes.
A conclusão é óbvia: é a qualidade dos jogadores que determina a qualidade da equipa, e quando os recursos não são bons, mudar de treinador raramente resolve alguma coisa.
Despedir Paulo Fonseca dificilmente muda o rumo dos acontecimentos. Melhor seria se o FC Porto contratasse mais dois ou três jogadres de qualidade em Janeiro.
Aí sim, os resultados poderiam melhorar.
Desde o início da época que o Benfica tem vindo a melhorar muito, e neste momento os seus resultados já são melhores do que os de FC Porto e Sporting.
Apesar de ter tido a equipa fustigada por lesões de vários jogadores (Sálvio, Cardozo, Siqueira, Ruben Amorim), o que não aconteceu aos rivais, e apesar de todos se queixarem da falta de "nota artística" no estilo de jogo dos encarnados, a verdade é que, pé ante pé, jogo a jogo, o Benfica tem vindo a crescer.
Vou mais uma vez usar aqui o indicador da percentagem de vitórias para comparar a performance dos três clubes grandes e dos três treinadores.
A percentagem de vitórias calcula-se dando 2 pontos a cada vitória, e um a cada empate, e depois dividindo essa soma por 2 pontos em todos os jogos, o máximo que se poderia obter.
Assim, se um clube tiver 3 vitórias, 1 empate e 1 derrota, terá 6 pontos pelas vitórias (3x2), mais 1 pelo empate, ou seja 7. O máximo que poderia obter seriam 10 (2x5 jogos) e portanto a percentagem de vitórias é de 70 por cento (7/10).
Este indicador é útil, pois assim podemos comparar resultados com o passado, quando as vitórias valiam apenas 2 pontos, e inclui os empates, que em futebol podem ser determinantes.
E qual é a percentagem de vitórias de Jorge Jesus até agora?
O Benfica realizou 24 jogos. Venceu 17 (10 para o campeonato, 3 na Champions, 3 na Taça de Portugal e 1 na Taça da Liga).
Depois tem 4 empates (3 no campeonato, e 1 na Champions).
Quanto a derrotas, há 3, 1 no campeonato e 2 na Champions.
Portanto o Benfica tem 38 pontos (17x2 + 4), em 48 pontos possíveis (2 x 24).
Ora, 38/48 dá que o Benfica de Jesus tem uma percentagem de vitórias de 79,1%.
O Benfica tem vindo sempre a subir desde o início da época, a tendência é pois ascendente.
Quanto ao FC Porto, os resultados são um pouco diferentes, para pior.
Os azuis realizaram até agora 25 jogos, mais 1 do que o Benfica, que foi a Supertaça.
Têm 15 vitórias (10 no campeonato, 1 na Champions e 3 na Taça de Portugal).
Têm 6 empates (3 no campeonato, 2 na Champions e 1 na Taça da Liga), e têm 4 derrotas (1 no campeonato e 3 na Champions).
Assim, o FC Porto tem 36 pontos (2x15 + 6) em 50 pontos possíveis (2x25).
Paulo Fonseca e os azuis têm portanto uma percentagem de vitórias de 72%, ou seja 36/50.
Depois de começar muito bem a época, o FC Porto caiu muito, mas no último mês estabilizou, o que promete um grande jogo para domingo na Luz.
Por fim, mostrem-se os resultados do Sporting de Leonardo Jardim.
O Sporting disputou apenas 17 jogos, pois não está nas competições europeias.
Tem 11 vitórias (10 para o campeonato e 1 na Taça de Portugal), 4 empates (3 no campeonato e 1 na Taça da Liga) e 2 derrotas (1 no campeonato e 1 na Taça de Portugal).
Assim, tem 26 pontos (10x2 + 4) em 34 possíveis (17x2).
Leonardo Jardim apresenta pois uma percentagem de vitórias de 76,4%, ou seja de 26/34.
Os resultados do Sporting têm sido bastante estáveis desde o início da época, mas o facto de ter menos jogos que os rivais é preciso ser levado em consideração.
Em conclusão: depois de um arranque aos soluços, o Benfica está em claro ascendente, e Jesus ultrapassou os outros rivais em resultados. Pode não jogar um futebol bonito, mas vai ganhando e é neste momento o que está mais forte.
Será que vai dar para vencer o FC Porto na Luz?
Já se esperava há umas semanas, mas desta vez foi mesmo! Depois de perder 0-5 em casa com o Liverpool, André Villas-Boas foi despedido de treinador do Tottenham.
A razão foi a do costume: os resultados estavam muito àquem do esperado pelo chairman do clube, Daniel Levy, e sobretudo havia duas humilhantes derrotas já este ano, uma por 6-0, contra o Manchester City, e a já referida goleada em casa, aplicada pelo Liverpool.
Esta é já a segunda má experiência que AVB tem em Inglaterra, e provavelmente ser-lhe-á fatal, golpeando a sua carreira prematuramente num dos melhores mercados de futebol do mundo.
Há dois anos, no final de uma espectacular época ao serviço do FC Porto, onde venceu quase tudo (Supertaça, Campeonato, Liga Europa e Taça de Portugal) AVB tinha sido contratado pelo Chelsea, seguindo as pisadas de José Mourinho, com quem trabalhou muitos anos.
Porém, as coisas nunca lhe correram bem e meses mais tarde Abrahamovic mostrar-lhe-ia a porta da rua, dando-lhe de caminho uma choruda indemnização.
Para quem pagara 15 milhões de euros aos FC Porto por um treinador, talvez tenha sido uma decisão muito precipitada.
O Chelsea de AVB não estava assim tão mal e o seu substituto, Roberto Di Mateo, acabaria por vencer a primeira Champions do clube em Maio.
Só que Abrahamovic não tem paciência, nem os adeptos tinham muita com AVB. Para mais, dizia-se dele que não tinha mão nas grandes estrelas, Lampard, Drogba e companhia.
Depois desse primeiro fiasco, muitos esperaram um regresso a Portugal, e chegou a falar-se que o seu adjunto Vítor Pereira iria à vida, regressando AVB.
Não seria assim. No final da época, o Tottenham aparecia, apostando no jovem treinador português.
Apesar de ter perdido Modric logo no início da época, AVB faria uma boa temporada, ficando à porta da Champions, em 5º lugar.
É verdade que muitas das vitórias dependeram de um génio chamado Bale, mas havia certamente também mérito de AVB.
Só que a vida de um treinador é cada vez mais imprevisível, e em Inglaterra, por exemplo, há cada vez mais despedimentos prematuros na Premier League.
Quais as razões para mais esta saída involuntária de AVB?
Em primeiro lugar, é óbvio, estão os maus resultados. As goleadas humilham e desmoralizam, além de tirarem pontos.
Com o sexto maior orçamento da Premier League, o Tottenham está em 7º classificado, com o mesmo número de pontos do 6º, o Newcastle, e à frente do Manchester United.
É sobretudo em casa que as coisas têm corrido mal, com 3 derrotas em 8 jogos.
Os sócios protestam, o ambiente degradou-se, e quando é assim é certo e seguro que o primeiro a partir é o treinador.
Mas, há quem diga que o plantel foi mal construído, que houve divergências entre AVB e Daniel Levy, e que este não contratou os jogadores pedidos pelo treinador.
É uma explicação habitual, que protege o treinador, mas a verdade é que o investimento foi considerável, e talvez as expectativas tenham subido demais.
Sem qualquer título conquistado, e apesar de uma boa carreira na Liga Europa, AVB ficou à merce dos resultados, e a goleada do Liverpool foi-lhe fatal.
De qualquer forma, em termos de percentagens de vitórias, AVB não ia nada mal.
Com 44 vitórias, 20 empates e 16 derrotas em 80 jogos, a sua percentagem de vitórias era de 67,5% e é o segundo melhor treinador de sempre do Tottenham, apenas abaixo de Frank Brettell, que tem uma percentagem de 68,2%, mas obtida em 1898!
É certo que não entra na lista dos 10 melhores de sempre da Premier League, onde Mourinho ainda lidera, com 81,3% de percentagem de vitórias, mas não se pode dizer que estes fossem maus resultados.
AVB sai, não porque tenha maus resultados gerais, mas porque teve maus resultados específicos que humilharam o clube, as já referidas goleadas.
E como será o futuro próximo de AVB?
Para já, a única vantagem para o treinador português é a choruda indemnização que irá receber. Fala-se em 9 milhões de euros.
AVB é, neste momento, um homem rico. De insucesso em insucesso, a sua conta bancária tem crescido exponencialmente.
Regressará ele ao FC Porto, à sua cadeira de sonho? É possível.
A carreira de Paulo Fonseca nos dragões tem sido irregular, e depois de um bom princípio a equipa desceu muito de qualidade, teve uma Champions muito fraca e perdeu a liderança do campeonato.
Pinto da Costa não costuma mudar de treinador, as últimas duas vezes que o fez deram maus resultados, e não foi campeão.
Mas, se Paulo Fonseca perder na Luz, e ficar ainda mais para trás no campeonato, não me admirava que AVB o substituísse.
Não poderia ganhar os 4,5 milhões de euros que o Tottenham lhe pagava, mas ganharia mais que Paulo Fonseca e daria uma alegria aos sócios dragões, que o adoram.
A acontecer alguma coisa, deverá ser em Janeiro.
É um dos meses do ano em que há sempre muitos despedimentos no futebol internacional!