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Os grandes clubes de futebol não têm como objectivo os lucros, mas sim as vitórias.

É isso que os adeptos desejam, bem como os accionistas, ou presidentes.

O lucro não é o primeiro objectivo de um clube de futebol.

Porém, quando se ganha, muitas vezes consegue-se também dar lucro.

Está a ser o caso do Benfica, esta temporada.

Não só conseguiu vencer três títulos em Portugal, e ir à final da Liga Europa, como conseguiu dar lucros.

 

Quais foram as principais razões destes lucros? 

As receitas de bilheteira não foram maiores do que as do ano passado, até desceram um pouco.

Onde a receita cresceu muito foi nos direitos de transmissão televisiva.

A Benfica TV representou um aumento de mais de 14 milhões de euros em receitas televisivas, o que é excelente, sobretudo no ano de arranque.

E é quase certo que para o ano estas receitas vão manter-se, ou mesmo aumentar ainda, pois a taxa de mortalidade dos assinantes da Benfica TV tem sido baixa. Ou seja, quem assina fica, e isso está a permitir construir uma base sólida com poucas oscilações.

 

A segunda razão para o aumento de receitas foi a venda de jogadores (Matic, Rodrigo e André Gomes).

O presidente Luís Filipe Vieira tinha decidido em Agosto não vender, para tentar ir longe na Champions.

Porém, em Janeiro o Benfica seguiu para Liga Europa, e o clube decidiu vender, embora apenas Matic tinha saído da equipa.

O resultado das três vendas foi muito bom, e provavelmente o clube não tem necessidade de vender este Verão.

O que não quer dizer que não venda.

Garay, Gaitan, Cardozo, Enzo, todos têm muita procura, e em certos casos será impossível que fiquem no Benfica.

Como Jesus ontem reconheceu na SIC Notícias, Enzo Pérez será o mais difícil de substituir, e por isso é provável que só saia se alguém pagar os 30 milhões da cláusula de rescisão. 

Mas, se há coisa que o clube aprendeu nos últimos anos foi a substituir bem os que saiem por novos talentos, e todos acreditam que Jesus o poderá voltar a fazer, mesmo que saiam 4 ou 5 jogadores titulares.

 

Parece-me que com a Benfica TV, e com as vitórias da equipa, o Benfica chegou a um novo patamar de estabilidade e solidez.

Tem as finanças em ordem, dá lucros, e ganha títulos. 

Mesmo sendo sempre um clube vendedor, cujo modelo de negócio é "importar-ganhar-vender", os patamares de receitas que consegue no estádio, nos direitos televisivos e nos prémios da UEFA, permitem-lhe manter a qualidade do plantel às ordens do treinador.

Se conseguir substituir bem as saídas, e sobretudo se mantiver os níveis de despesa salarial com o plantel principal, o Benfica fica muito mais forte. 

Finalmente, julgo ser possível que se prolongue no Benfica um ciclo virtuoso de vitórias e lucros. 

publicado às 11:13

Ao contrário do que eu temia, a Benfica TV não roubou espectadores ao Estádio da Luz.

A média de espectadores desta época até foi maior do que a da época anterior: 43613 em média por cada jogo, contra os 42356 do ano passado.

É um excelente resultado para o Benfica, pois não só conseguiu lançar e sustentar a Benfica TV, que tem mais de 300 mil subscritores, como conseguiu não perder espectadores na Luz.

 

Até meados da época porém, isso não estava a acontecer, como aqui escrevi.

No entanto, a ponta final do Benfica no campeonato (jogos contra Estoril, Académica, Olhanense e Setúbal) conseguiu fazer subir a média para números que só foram superados no ano de 2010, o primeiro de Jesus, e até agora melhor de sempre em termos de público.

Veja aqui as médias dos últimos sete campeonatos, conforme o site da Liga informa:

 

Época              Média por jogo (15 jogos)

2013-14              43613

2012-13              42356

2011-12              42530

2010-11              38148

2009-10            50033

2008-09              38763

2007-08              38632 

 

 

publicado às 13:32

Como os meus leitores bem sabem, no início eu tinha bastantes dúvidas que, em ano de recessão e crise, fosse possível a Benfica TV ser um grande sucesso.

Para mais, a equipa acabara o ano anterior em estado de choque, e o início desta temporada foi difícil, o que ainda aumentava o meu cepticismo.

Porém, a Benfica TV ultrapassou claramente todas as minhas expectativas.

Atingir 300 mil assinantes em meados de Fevereiro, com parte importante da época ainda por chegar, é excelente.

Embora o "derby" contra o Sporting seja o último grande jogo em casa para o campeonato, a verdade é que, continuando a equipa na frente, cada jogo será um ponto forte para vender mais subscrições, pois a excitação do final do ano é propícia a mais assinaturas.

 

E, com 300 mil assinantes, o Benfica está muito melhor do que se tivesse aceite a última proposta da Olivedesportos, de 22,2 milhões de euros por ano?

Esse era um lucro líquido, sem custos de transmissão ou outros, e por isso teremos de calcular o lucro líquido da Benfica TV com 300 mil assinantes.

Para já, vamos considerar que a média mensal é de 300 mil assinantes, para 12 meses.

É possível que não seja, pois pode haver desistências, mas para já vamos considerar que é.

Retirando a parcela de Iva, temos que cada assinante paga 8,05 euros por mês, ou 96,6 euros por ano.

Se multiplicarmos este valor por 300 mil, temos um valor total de 28,98 milhões de euros por ano.

Contudo, há uma parcela deste valor que fica nos operadores (Meo, Zon, Vodafone, Cabovisão).

Embora não conheça os detalhes concretos da divisão de receitas entre as operadoras e o Benfica, podemos admitir um cenário em que, até 100 mil assinantes é metade para os operadores e metade para o Benfica, e para os restantes 200 mil assinantes é tudo para o Benfica.

Dessa forma, teríamos que anualmente seria 100 mil vezes 48,3 euros pela primeira parte, e 200 mil vezes 96,6 euros pela segunda parcela.

A receita total de subscrições para o Benfica seria pois de 24,15 milhões de euros por ano (100000x48,3 + 200000x96,6)

 

A este valor haveria que somar as outras receitas de publicidade e vendas de direitos para o estrangeiro, que Filipe Soares de Oliveira disse recentemente serem de cerca de 8 milhões de euros, e diminuir os custos da Benfica TV, seja em pessoal, seja em transmissões, seja em compra de direitos de outras ligas (Premier League, etc), que o director financeiro do clube disse serem de 9 milhões de euros.

Portanto, a receita final líquida do Benfica seria de 23,15 milhões de euros (24,15 + 8 - 9).

A conclusão que podemos pois retirar é que, com uma média mensal de 300 mil assinantes, a Benfica TV consegue receitas líquidas superiores à da última proposta da Olivedesportos.

 

Assim, é evidente que este foi um projecto vitorioso para o Benfica, que não só deixou de depender da Olivedesportos e da SportTV, o que é uma libertação política muito relevante, como financeiramente atinge um resultado ligeiramente superior ao que obteria no caso de venda dos direitos à Olivedesportos.

No entanto, há que admitir também que a Benfica TV possa ter provocado uma ligeira quebra no número de espectadores no estádio da Luz, o que representa uma perda de receita.

É assim? 

Na época passada, em 15 jogos, o Benfica teve uma média de espectadores na Luz de 42359 por jogo.

Este ano, com apenas 9 jogos, já contando com cerca de 60 mil espectadores no Benfica-Sporting, a média por jogo está nos 40100 (segundo os números da Liga, apenas para jogos da Liga Zon Sagres). 

Essa ligeira quebra de espectadores na Luz representará cerca de meio milhão de euros de perda de receitas de bilheteira, até agora.

Resta saber se é possível recuperar esses espectadores.

Se o Benfica se mantiver à frente do campeonato, nos seis jogos que faltam pode ter enchentes, e até ultrapassar a média do ano anterior, e a perda será irrelevante.

Mas, para já, há uma ligeira perda.

Contudo, mesmo assim não é suficiente para pôr em causa a grande vitória que é Benfica TV.

Acho que o presidente Luís Filipe Vieira merece os parabéns pela aposta e pelos resultados.  

 

publicado às 10:36

Domingos Soares Oliveira deu uma entrevista à Benfica TV, onde garantiu que, logo no primeiro ano de funcionamento, a Benfica TV vai trazer para os cofres do clube mais do que os 22,2 milhões de euros que a Olivedesportos propôs o ano passado ao Benfica.

Além disso, acrescentou que a Benfica TV, em velocidade de cruzeiro, poderá chegar a uma receita anual de 40 milhões de euros por ano, o que é muito superior ao que a Olivedesportos oferecia.

 

Fazem estes números sentido?

Em primeiro lugar, é preciso dizer que os 40 milhões de euros referidos pelo director financeiro são uma receita total, e não uma receita líquida. A esse valor é necessário deduzir alguns custos, e só depois é que devemos comparar o valor com os 22 milhões da Olivedesportos, pois esses eram uma receita líquida, sem custos.

Ora, Domingos Soares de Oliveira declarou, numa outra ocasião, que os custos da Benfica TV andariam à volta de 9 milhões de euros.

Nesse caso, a receita líquida da Benfica TV, em velocidade de cruzeiro, seria de 40-9, ou seja 31 milhões, o que é muito melhor que a Olivedesportos ofereceu.

 

E qual o número de assinantes necessário para chegar a este valor?

Na entrevista de ontem, Domingos Soares de Oliveira diz que a Benfica TV espera chegar ao Natal com 300 mil assinantes, o que seria fantástico, e um enorme sucesso, e transformaria a Benfica TV num excelente negócio para o clube.

 

Ao ler esta entrevista, fiquei contente. A previsão que eu fiz, há uns meses atrás, foi exactamente essa.

Quem leia este blog, poderá ir rever o que aqui escrevi, e era precisamente o número de 300 mil assinantes que eu dizia ser o número mágico que faria a Benfica TV um excelente negócio, e melhor do que a proposta da Olivedesportos.

 

Muitos me criticaram, dizendo que eu não percebia do que estava a falar, mas pelos vistos eu tinha razão.

Mesmo não conhecendo os detalhes do negócio (quanto se ia facturar em publicidade, ou qual era a forma de partilhar receitas ou IVA com as operadoras), a verdade é que desde Setembro que eu venho dizendo que a partir dos 250 mil assinantes a Benfica TV é um negócio muito bom e com 300 mil assinantes é muito melhor que a última oferta da Olivedesportos.

Enquanto uns falavam em 450 mil assinantes (como Rui Santos, e outros), eu sempre disse que entre os 250 mil e os 300 mil era bom negócio. 

 

Fico agradado com isso, é prova que os meus cálculos económicos são razoáveis. 

Contudo, tenho de reconhecer que a Benfica TV me surpreendeu pela positiva.

Eu não esperava resultados tão bons logo no primeiro ano, e ainda por cima em época de recessão na economia.

A única consequência desagradável da Benfica TV é a queda de espectadores na Luz, mas esperemos que isso melhore nos próximos tempos. 

 

 

publicado às 11:02

A SAD do Benfica aprovou as contas do ano que terminou em Junho, onde apresentou um prejuízo de 10,3 milhões de euros, um pouco menos do que na época anterior.

É importante lembrar que nestas contas estavam incluídas duas importantes vendas de jogadores, Witsel e Javi Garcia, mas mesmo assim a SAD deu prejuízo, pois o elevado investimento em novos jogadores (Salvio, Ola John, Lima, etc) comeu os ganhos.

Por outro lado, houve ligeiras perdas em receitas de bilheteira, e em prémios da UEFA. 

Além disso, os resultados financeiros continuam com perdas consideráveis, em juros e afins, nos 22,6 milhões de euros, e isso desequilibra as contas.

O Benfica está muito "alavancado", com uma dívida bancária de curto prazo elevada, nos 162 milhões de euros, e com dívidas a fornecedores de 49 milhões de euros e a outros credores de 47,3 milhões de euros.

É muita dívida.

Bem sei que o Benfica tem activos valiosos: o estádio e as infraestruturas que o rodeiam, o centro de estágio do Seixal, a marca, o valor dos passes dos jogadores.

Mas, a opção pelo endividamento tem custos altos, e infelizmente os resultados desportivos deixaram a desejar.

Se a equipa tivesse ganho a Liga Europa e o campeonato, esta dívida elevada justificava-se, mas assim deixa uma sensação estranha de inutilidade.

Talvez fosse bom o Benfica "desalavancar".

Pagar dívida com mais dívida, a taxas de 6 ou 7% é caro, e não resolve o problema do "fair play" da UEFA, que obriga os clubes a não terem 3 anos seguidos de prejuízos.

É certo que, com a Benfica TV a correr muito bem (mais de 230 mil assinantes), o Benfica poderá contar com 15 milhões de lucros adicionais vindos das receitas televisivas.

Só isso quase chega para dar lucro em Junho de 2014.

Mesmo que a carreira europeia não corra muito bem, seja na Champions, seja na Liga Europa, bastará ao Benfica vender em Janeiro um ou dois jogadores bem vendidos, para o ano ser mais equilibrado.

Contudo, acho que o clube podia "desalavancar", aumentando os seus capitais próprios e diminuindo a sua dívida de curto prazo.

Há duas formas de o fazer: transformando dívidas em capital ou aumentado os seus capitais em bolsa.

A primeira opção, já seguida pelo Sporting e aconselhada também pela UEFA, é perfeitamente possível.

Mas, com o bom momento que se vive nas bolsas, incluindo na portuguesa, o cenário de um aumento de capital pode ser muito atrativo.

O Benfica pode perfeitamente conseguir mais 30 ou 40 milhões de euros através da subscrição de novas acções, dispersando mais capital na bolsa.

O argumento da Benfica TV, bem como a melhoria visível da performance da equipa, permitem avançar para uma solução dessas.

Seria inteligente, pois traria um equilíbrio financeiro mais saudável à SAD, diminuindo a sua dívida e a sua dependência do financiamento bancário.

Eu sei que o futebol não tem tanto apelo bolsista como os CTT e outras empresas, mas com as poupanças que existem por aí, ir à bolsa pode ser a solução. 

publicado às 09:46

Ontem, num artigo a propósito dos 10 anos de presidência de Luís Filipe Vieira, o jornal Record noticiou que a Benfica TV já tem 230 mil assinantes.

Em meados de Setembro, há pouco mais de um mês, o canal anunciara ter chegado aos 190 mil assinantes em apenas 2 meses.

Ou seja, entre o meio de Julho, quando o projeto arrancou, e o meio de Setembro, a Benfica TV tivera uma média mensal de assinantes de 95 mil.

No mês e meio seguinte, entre meados de Setembro e finais de Outubro, conseguiu apenas mais 40 mil, o que representa uma quebra no ritmo, mas ainda assim uma boa média mensal.

Será possível o número de assinantes ainda crescer mais esta época?

Se pensarmos que a recessão económica ainda está forte, é provável que o número de assinantes não cresça muito mais este ano.

Porém, se a performance da equipa no campeonato começar a melhorar, isso pode ser possível.

Em Janeiro, haverá um Benfica-FC Porto na Luz, para o campeonato, e talvez aí se consiga atingir o pico da época, em termos de assinantes.

Se o Benfica vencer esse jogo, aproximando-se do rival, e o campeonato ficar aberto até ao fim, o número de assinantes terá tendência para continuar a crescer.

Porém, se o Benfica perder, ficando já muito longe do FC Porto, é provável que o número de assinantes não cresça muito mais.

 

E, do ponto de vista do negócio, o que valem 230 mil assinantes mensais?

Numa entrevista recente ao Diário Económico, o director financeiro Domingos Soares de Oliveira declarou que os custos da Benfica TV andavam pelos 9 milhões de euros por ano, incluindo aqui os custos com pessoal, os custos com as transmissões dos jogos em casa, e os direitos pagos às várias ligas que a Benfica TV transmite, incluindo a Premier League.

Na mesma entrevista, Soares de Oliveira dizia que, em receitas publicitárias, seja no estádio, seja em antena, a Benfica TV já tinha garantidos 8 milhões de euros, tanto quanto o clube fazia no passado com a venda dos direitos totais à Olivedesportos.

Além disso, o director financeiro, sem ser muito explícito e sem revelar pormenores, reconhecia que existia entre a Benfica TV e os operadores de cabo (Meo, Zon, Vodafone, Cabovisão, etc) um acordo de partilha de receitas.

Ou seja, do total recebido em subscrições da Benfica TV, uma parte fica para o operador, e uma parte fica para a Benfica TV.

A questão é como se faz esta divisão.

Segundo fontes bem informadas, dizem-me que, até certo número de assinantes é 50 por cento para cada parte, e a partir daí é tudo para a Benfica TV.

 

Admitamos então que, nos primeiros 100 mil assinantes, as receitas se dividem pela metade, e que a partir daí vão na totalidade para o Benfica.

Nesse caso, qual seria a receita líquida de impostos que o clube obteria por ano?

Se o preço da subscrição são 9,9 euros, descontado o Iva, o valor é de 7,623 euros.

Metade disto são 3,811 euros. Esse seria o valor individual de receita que a Benfica TV receberia por mês, vindo dos primeiros 100 mil assinantes.

Teríamos depois de multiplicar 3,811 euros por 100 mil assinantes e depois por 12 meses, o que dava um valor de 4.573.800 euros.

 

A esse valor teríamos agora de somar a parcela em que a totalidade da receita vai directa para a Benfica TV, o valor gerado pelos restantes 130 mil assinantes.

Descontando o Iva, teríamos 7,623 euros vezes 130 mil assinantes vezes 12 meses, o que dá 11.891.880 euros.

Assim, somando as duas parcelas, teríamos uma receita líquida superior a 16 milhões de euros, cerca de 16.465.680 euros.

A este total, temos de somar os 8 milhões de receitas publicitárias e subtrair os 9 milhões de custos do canal.

No final, ficamos com 15,46 milhões de euros, e é esse o lucro líquido previsto com 230 mil assinantes.

 

É isso bom ou nem por isso?

Bem, se compararmos com o que o Benfica ganhava até à época passada, é muito melhor, é mesmo o dobro, pois o Benfica recebia da Olivedesportos um pouco mais de 7,5 milhões de euros, e agora ganhará 15,46 milhões.

Ou seja, melhorou bastante, e fez expandir a sua base de receitas, isso é evidente.

Mas, é preciso recordar que a última oferta da Olivedesportos era de 22,2 milhões de euros, por ano!

Comparando com esse valor, ainda estamos abaixo, a cerca de 2/3.

Para chegar a uma receita líquida de 22,2 milhões de euros por ano, a Benfica TV terá de aproximar-se dos 300 mil assinantes, mais coisa menos coisa.

É um número alto, e não sendo impossível de atingir ainda este ano, só com muita ajuda de Jorge Jesus e dos jogadores é que ele se tornará uma realidade! 

 

Além disso, há ainda outro factor a levar em consideração.

Quem tem ido aos jogos na Luz, como eu, tem notado que as assistências têm estado um pouco abaixo do que era esperado. Nos jogos para o campeonato, não se chegou ainda aos 40 mil espectadores.

Será a Benfica TV uma das causas da quebra de espectadores na Luz?

É possível que sim, mas é difícil estimar quantos preferem pagar 9,9 euros e ver dois jogos no sofá, em vez de irem ao estádio.

Pode acontecer, principalmente para quem está fora de Lisboa.

Um sócio de Coimbra, Famalicão ou Viana, é capaz de preferir ficar em casa do que fazer a viagem até à Luz, e portanto a subida de receitas da Benfica TV pode implicar uma ligeira quebra de receitas no estádio, aquilo a que os economistas chamam "efeito de substituição".

 

Em resumo, o que se pode dizer até agora é que a Benfica TV está a correr bem, o clube melhorou as suas receitas televisivas, comparando com o ano passado, mas ainda não chegou ao valor mágico que Vieira deseja, batendo a última oferta da Olivedesportos.

E, para já, o número de espectadores na Luz diminui.

publicado às 14:06

O "caso Cardozo" ameaçava tornar-se um sério melodrama, e por isso teve de se lhe colocar um ponto final.

Ontem, o jogador falou à Benfica TV, e pediu desculpa a treinador, colegas e adeptos, pelos seus excessos na final da Taça de Portugal.

Foi um acto necessário, que só pecou por tardio.

70 dias para pedir desculpa, é muito dia. 

Um triste episódio que podia ter sido resolvido logo em Maio, uma ou duas semanas depois de ter acontecido, prolongou-se pelo Verão, e tornou-se uma telenovela um pouco patética.

Julgo que o Benfica não obrigou Cardozo a pedir desculpas porque estava convencido da sua venda. Como ela não se deu, é preciso meter o contador a zero outra vez. 

E, com este pedido de desculpas, as coisas mudam mesmo.

Perdoado e arrependido, Cardozo pode perfeitamente treinar-se com os colegas, ser integrado na equipa e jogar, caso Jesus o entenda.

Seja ou não vendido até ao fecho do mercado, estará em actividade, e não num exílio forçado em Sesimbra, ou noutro local qualquer.

É disparatado ter um jogador como Cardozo nas suas fileiras e não o usar, e foi isso que os adeptos quiseram dizer, com os seus assobios no final do jogo com o São Paulo.

Embora na época passada Cardozo tenha marcado menos golos que Lima no campeonato, o mito do Tacuara goleador fulgurante continua vivo na Luz, sobretudo quando a equipa fica a zero.

Com este pedido de desculpas, voltou o juízo a todos, e a situação regressará ao normal.

O que não se pode dizer, como disse o empresário, é que havia o risco do jogador desvalorizar por causa de estar parado. Isso não é verdade.

Cardozo não é um menino imberbe, de méritos desconhecidos. Marca muitos golos por ano, há muitos anos. É o melhor goleador estrangeiro da história do Benfica.

Não é por falhar um mês de treinos que perde valor. Se algum valor perdeu, foi por se ter comportado mal, à vista de todos, com recriminações inaceitáveis.

Isso sim, tira valor, pois os clubes não gostam de "troublemakers" nos seus plantéis.

Não se pode portanto dizer que a transferência para o Fenerbahçe falhou por causa do "melodrama da Taça de Portugal". As razões foram outras.

O presidente do Benfica não quis correr riscos financeiros e fez bem.

O Fenerbahçe está envolvido em graves suspeitas, e só se inscreveu na Liga dos Campeões porque há um recurso que suspendeu o seu castigo.

Mas, a qualquer momento pode ir borda fora, e há o risco de não pagar uma compra de um jogador como Cardozo.

Apesar de tudo, eram pelo menos 13 milhões de euros.

É dinheiro, e sem serem dadas as garantias bancárias, fez bem Luís Filipe Vieira em roer a corda.

Com tanto risco financeiro de levar um calote, mais vale Cardozo ficar na Luz do que em Istambul.

Até porque o dinheiro de uma venda de Cardozo é mais-valia financeira na quase totalidade para o Benfica.

O Benfica pagou bem por ele há seis anos, cerca de 11 milhões, mas o passe do jogador já foi amortizado.

A amortização desportiva foi em golos, a amortização financeira foi à contabilidade em seis exercícios. O activo intangível foi amortizado.

Assim, qualquer dinheiro que entrar, é lucro direto para o clube.

E será possível vender o jogador ainda este ano?

Se for por 10 milhões, não me parece impossível. Por 13, acho difícil. E por 15 parece-me uma fantasia pouco lúcida.

Contudo, mercado é mercado, e por vezes a especulação transforma o impossível em possível.

Sim, é verdade, mas pelo andar da carruagem, e o pedido público de perdão aponta nesse sentido, o mais certo é Cardozo continuar na Luz mais uma temporada. 

publicado às 12:07

O meu post de ontem, com que iniciei a escrita deste novo blog, deu origem a variados comentários, tanto aqui no blog como nas minhas páginas no facebook (https://www.facebook.com/Domingos.Amaral ou https://www.facebook.com/domingosfreitasdoamaral).

A todos os leitores agradeço os comentários, mesmo quando são abrasivos e duros.

E, perante algumas das questões colocadas, não quero deixar de tentar esclarecer os leitores. 

 

1 - A questão do IVA

Na simulação que ontem fiz, e onde referi que não tinha acesso a informação oficial sobre vários aspectos importantes, não considerei o IVA.

Vários leitores falaram nisso, lembrando que as contas podem alterar-se. 

A razão porque não o fiz tem a ver exactamente com o desconhecimento sobre os contratos entre a Benfica TV e os vários operadores envolvidos (MEO, Zon, etc). Não sei como serão partilhadas as receitas nem como será partilhado o custo do IVA entre as várias partes.

Também não sei se a Benfica TV terá direito a reembolsos de IVA, nem se fazendo parte da Benfica SAD, o IVA específico relativo à Benfica TV será englobado nas contas gerais da SAD ou não.

Por isso, não o considerei.

No entanto, é provável que uma parcela de IVA tenha de ser descontado às contas de receita líquida que apresentei, o que levará a que o número de assinantes necessários para atingir os objectivos na minha simulação tenha de subir um pouco. 

 

2 - A publicidade na Benfica TV

Alguns leitores defenderam que as receitas publicitárias que considerei, cerca de 10 por cento da receita total, eram um valor excessivo.

No entanto, a mim não me parece, pois apesar de tudo a Benfica TV terá muito bons jogos da Premier League para transmitir, além dos jogos em casa do Benfica, e isso pode possibilitar audiências grandes, gerando receitas publicitárias interessantes.

No entanto, também não sei se essas receitas terão de ser partilhadas com os operadores.

Mesmo assim, 10 por cento parece-me razoável, até pela questão de que falo no ponto seguinte.

 

3 - A publicidade estática durante os jogos

Vários leitores falam também deste assunto, mas mais uma vez é preciso alguma cautela.

Não tenho acesso aos contratos realizados entre Benfica e PPTV nos últimos anos para saber qual o valor da publicidade estática durante os jogos em casa, e nos relatórios de contas da Benfica SAD também não encontrei qualquer referência a este valor.

Se o valor da publicidade estática fazia parte do contrato anterior com a PPTV/Olivedesportos, então agora a publicidade estática passará a ser explorada pela Benfica TV, e portanto será uma receita da estação.

Porém, esse valor não deve ser muito elevado, pois estamos a falar de apenas 2 jogos por mês, durante 7 meses e meio.

Não me parece que seja uma receita muito relevante, e posso mesmo defender que esse valor está já incluído no valor de receitas publicitárias da Benfica TV, que estimei em 10 por cento da receita total. 

 

4- As plataformas no estrangeiro

Alguns leitores dizem que também não considerei as receitas da Benfica TV provenientes do estrangeiro, falando na Europa, na América e em África. 

É verdade, mas também aqui existe uma explicação razoável.

Julgo que os direitos da Premier League, comprados pela Benfica TV, não são extensivos ao estrangeiro, e apenas são válidos para território português, o que diminui o interessa da oferta da Benfica TV para outros territórios.

Assim, a estação fica limitada aos jogos na Luz, o que pode obrigá-la a cobrar uma mensalidade mais barata para esses territórios, diminuindo a receita total. 

Além disso, parece-me também que o número total de assinantes fora do território nacional não será muito grande, tal como também não o é na SportTV. 

Embora admita que exista uma receita adicional que não considerei, não julgo que ela venha a ser muito substancial.

 

5 - Diminuição dos direitos televisivos de FC Porto e Sporting

Um dos leitores afirma que o facto do Benfica ter terminado contrato com a Olivedesportos/PPTV levará a que as receitas televisivas de FC Porto e Sporting desçam, pois ambas estavam indexadas aos valores do contrato com o Benfica.

Julgo que não será assim.

Se o Benfica tivesse assinado contrato com a Olivedesportos/PPTV por um valor muito elevado, nesse caso é que o valor dos contratos com FC Porto e Sporting subiria, mas não havendo contrato com o Benfica não há lugar a descida de valores nos outros dois contratos.

Os valores recebidos por FC Porto e Sporting não são por isso directamente afectados pela existência da Benfica TV.

 

6 - Contas de merceeiros

Um dos leitores, mais abrasivo, acusa-me de fazer "contas de merceeiros" porque me enganei no valor da proposta feita pela Olivedesportos/PPTV, pois escrevi que ela foi no valor de 22,5 milhões de euros quando ela foi de 22,2 milhões de euros por ano.

O leitor tem razão, de facto cometi um pequeno lapso nesse valor, mas trata-se apenas de uma diferença de 300 mil euros por ano, o que dividindo por 12 meses e por uma assinatura de 9,9 euros, dá um número de assinantes de 2500.

Ou seja, na minha simulação, há um pequeno desvio, e em vez de se atingir um bom negócio nos 250.000 assinantes, atinge-se um bom negócio nos 247.500 assinantes...

Será um desvio assim tão relevante para me reduzir ao estatudo de "merceeiro"? 

 

7 - Conclusão final

Aquilo que ontem tentei fazer foi uma simulação, partindo de hipóteses que me pareceram razoáveis, e avisando que não tenho acesso a certa informação sobre o negócio que pode ser relevante (partilha de receitas com operadores, contratos publicitários, etc).

No entanto, apesar das limitações da simulação, e tendo de admitir que em certos casos (IVA, etc) poderá ser necessário fazer alguns acertos às minhas contas, julgo que os valores globais a que cheguei não andarão muito longe da realidade. 

A minha previsão mantém-se portanto: abaixo de 137 mil assinantes, é um mau negócio; entre 137 e 250 mil assinantes, é melhor do que existia antes; e acima de 250 mil assinantes é um bom negócio para o Benfica.

Mas, só o futuro dirá se isso se vai ou não verificar. 

publicado às 10:34

Nas minhas aulas de Economia do Desporto, cadeira que lecciono na Universidade Católica, a estudantes de economia e gestão, examinei este ano o "case study" da Benfica TV, pois é um projecto muito original, corajoso, mas também financeiramente arriscado.

A Benfica TV é original, pois não existe no futebol europeu ou mundial nenhum caso de clubes que vendam os direitos televisivos dos jogos em casa a si próprios. Existem alguns clubes - Manchester United, Chelsea, Real Madrid, Barcelona - que têm televisões próprias (acessíveis de graça também em Portugal), mas nenhuma delas transmite jogos ao vivo e em casa.

A razão é simples: todos esses clubes recebem fortunas colossais dos operadores de Tv (ou da Liga, no caso inglês) pelos seus direitos televisivos, e portanto não têm qualquer incentivo para fazer transmissões directas nos seus próprios canais.

No entanto, é precisamente esse o problema em Portugal, e foi isso que levou o Benfica a avançar para uma televisão própria.

Até à época que terminou em Junho, o Benfica ganhava apenas cerca de 8 milhões de euros em direitos pela transmissão dos jogos em casa, uma quantia baixíssima.

Só para efeitos de comparação, diga-se que o Granada, uma das menos cotadas equipas que disputa a Liga espanhola, ganhou em 2013 cerca de 12 milhões de euros. E o Valência, a terceira equipa de Espanha, ganhou 42 milhões de euros.

Sentindo-se injustiçado, o Benfica decidiu não renovar o contrato com a Olivedesportos/PPTV, a empresa que nas últimas décadas tem dominado o mercado de direitos televisivos em Portugal.

Foi uma decisão corajosa, e ainda por cima com o apoio esmagador da maioria dos sócios do Benfica, que há muito desejavam esta separação de uma empresa que, mal ou bem, identificam como "aliada" do rival maior do norte, o FC Porto.

Durante algum tempo, o Benfica ainda esperou que aparecesse um concorrente da Olivedesportos, para furar o monopólio desta, mas tal não veio a acontecer. Paes do Amaral ainda tentou, mas desistiu da ideia.

Apesar dos esforços do presidente da Liga, Mário de Figueiredo, que tenta lutar pela contralização na Liga dos direitos televisivos, a verdade é que o mercado está atrofiado pelo monopólio da Olivedesportos/PPTV, na compra dos direitos; e também pela SportTV, na venda aos consumidores finais.

Politicamente, a entrada da Benfica TV no jogo é uma oportuna decisão política, pois liberta o Benfica do jugo da Olivedesportos, e fura o monopólio desta pela primeira vez, o que é salutar para todos.

No entanto, há riscos importantes no projecto da Benfica TV, sobretudo financeiros, e é importante analisá-los com minúcia, para que se possa perceber a dimensão da aposta de Luís Filipe Vieira.

Passando a Benfica TV a um "canal premium", com uma mensalidade de 9,9 euros, a televisão da Luz passa a ser concorrencial com a SportTV, mas é evidente que precisava de mais do que apenas 2 jogos em casa do Benfica por mês. E os campeonatos gregos ou brasileiro não têm um poder de atração muito grande.

Assim, o Benfica teve de subir a parada e disparou um tiro certeiro e ambicioso: comprou os direitos da Premier League para os próximos 3 anos, por cerca de 3 milhões de euros por ano.

É uma aposta forte, ainda por cima coincidindo com o regresso de Mourinho a Inglaterra. Só faltava Ronaldo regressar a Manchester para ser ainda mais certeira.

Porém, será suficiente para criar "value for money"? Sem jogos da Champions League, sem jogos da Liga Europa, sem jogos do campeonato português tirando os que se passem na Luz, conseguirá o Benfica tornar a Benfica TV numa mina de ouro?

Para apreciar esse objectivo, teremos de fazer contas. Se o Benfica conseguir chegar a 8 milhões de euros por ano de receita líquida (já deduzidos os custos), ficará exactamente na mesma, ou seja, ganhará o mesmo que ganhou em 2012/2013. 

Acima desse valor, o Benfica estará a ganhar mais dinheiro do que nas últimas épocas. Mas ganhará mais do que podia ganhar? Recorde-se que a última oferta feita pela Olivedesportos/PPTV foi de 22,5 milhões de euros por ano, oferta essa que foi rejeitada pelo Benfica, conforme comunicado enviado à CMVM há uns meses atrás.

É portanto esse o julgamento que deve ser feito.

Abaixo de 8 milhões de receita líquida, a Benfica TV é um mau negócio.

Entre 8 e 22,5 milhões de euros de receita líquida, a Benfica TV é um bom negócio, mas não tão bom como a última oferta da Olivedesportos.

Acima de 22,5 milhões de euros de receita líquida por ano, a Benfica TV é um excelente negócio para o Benfica.

 

Estabelecido este critério para avaliar, vamos agora tentar calcular qual o número de assinantes que o Benfica precisa para atingir cada uma destas metas.

Quais são os custos da Benfica TV? Além dos referidos 3 milhões de euros pelos direitos da Premier League, há os outros direitos dos outros campeonatos, os custos de transmissão dos jogos na Luz, os custos com o pessoal necessário para a empresa funcionar, e coisas assim.

Embora eu não tenha acesso a esses números, parece-me razoável estimar que os custos da Benfica TV andarão à volta de 6 milhões de euros por ano.

E quais são as receitas?

Serão essencialmente as receitas dos assinantes da Benfica TV, que pagarão 9,9 euros mensais, e ainda alguma receita publicitária adicional que se consegue devido à transmissão dos jogos. Embora não seja fácil de calcular este valor, é sabido que a receita publicitária nos "canais premium" de desporto não é muito elevada, e por isso parece razoável estimar que no máximo a receita publicitária será 10 por cento da receita total. 

Há ainda um problema adicional: é que nem toda a receita das subscrições vai para a Benfica TV, pois os operadores (MEO, Zon, etc) ficam com uma parte da receita até um determinado nível de assinantes. Mais uma vez, não tenho acesso a essa cláusula, mas podemos estimar que metade da receita poderá ficar nos operadores até que sejam atingidos os 30 mil assinantes em cada operador. 

Assim sendo, qual será a receita líquida da Benfica TV com 100 mil assinantes, o número que o clube já atingiu?

O valor total da receita será de 100 mil vezes 9,9 euros, ou seja 990 mil euros por mês. Se multiplicarmos por 12 meses, temos 11,88 milhões de euros por ano. 

Contudo, para os primeiros 60 mil assinantes, a receita para a Benfica TV será apenas de metade, pois metade irá para o operador, e só os restantes 40 mil assinantes vão directos para receita da Benfica TV.

A receita total neste caso será apenas de 8,316 milhões de euros por ano (60 mil assinantes vezes metade de 9,9 euros vezes 12 meses; e 40 mil assinantes vezes 9,9 euros vezes 12 meses).

A somar a esse valor teremos ainda a receita dos anúncios na Benfica TV, cerca de 10 por cento dos 11,88 milhões, ou 1, 188 milhões. Portanto a receita total final dará cerca de 9,5 milhões de euros.  

Subtraindo a este valor os 6 milhões de euros em custos, teremos uma receita final líquida de apenas 3,5 milhões de euros, o que é muito abaixo dos 8 milhões que o clube recebia até ao final da última época. 

Portanto, com 100 mil assinantes, a Benfica TV ainda não é bom negócio para o clube, pois dá menos de metade da receita líquida que o clube recebia da Olivedesportos. 

Quantos assinantes precisa então a Benfica TV de ter para chegar aos 8 milhões de euros de receita líquida? 

Pelas minhas contas, são apenas precisos mais 37131 assinantes por mês para o Benfica chegar a uma receita líquida de 8 milhões de euros por ano.

Ou seja, com 137131 assinantes mensais a Benfica TV passa a ser um negócio melhor do que a situação do ano de 2012/2013.

Não parece muito difícil de atingir esse número pois não? Se o clube conseguiu 100 mil assinantes em menos de um mês, conseguir mais 37 mil não será certamente muito complicado.

Porém, convém lembrar que essa era a situação na qual o Benfica achava que ganhava pouco por ano. E convém lembrar que o Benfica rejeitou uma oferta de 22,5 milhões de euros por ano.

Qual é o número de assinantes necessários para que o Benfica ganhe mais do que essa última oferta da Olivedesportos, de 22,5 milhões de euros por ano de receita líquida?

Se os parâmetros que usei nas contas se mantiverem, a partir de 250 mil assinantes, mais coisas menos coisa, a Benfica TV é um excelente negócio para o clube e ultrapassa claramente a última oferta da Olivedesportos.

Em resumo, segundo estas minhas estimativas, e volto a dizer que não tenho acesso directo a todos os números do negócio, e por isso esta é apenas uma estimativa pessoal com base em certos princípios gerais, o que se pode concluir é o seguinte:

 

- Abaixo dos 137 mil assinantes a Benfica TV é um mau negócio.

- Entre os 137 mil e os 250 mil assinantes, a Benfica TV representa uma melhoria da situação do clube face ao passado recente mas não ultrapassa a última oferta da Olivedesportos.

- Acima dos 250 mil assinantes, a Benfica TV é um excelente negócio para o clube, e será uma aposta vencedora de Luís Filipe Vieira.

  

A pergunta seguinte que se deve fazer é: e é possível a Benfica TV ultrapassar os 250 mil assinantes?

Na actual conjuntura económica, não será fácil. Com a economia ainda em recessão, há muitos benfiquistas que terão dificuldade em assinar a Benfica TV, mesmo vivendo longe de Lisboa e do estádio da Luz.

Acresce que, e esse é um dos principais riscos do negócio, por 9,9 euros os benfiquistas poderão ver 2 jogos no conforto das suas casas e podem ir menos ao estádio.

Os economistas chamam a isto o "efeito de substituição" e a Benfica TV torna-se assim numa concorrente do próprio estádio da Luz. Talvez por isso, o Benfica já baixou o preço médio dos lugares anuais cativos e provavelmente irá baixar também os preços gerais dos bilhetes, principalmente para os sócios, para evitar que eles fiquem em casa a ver na televisão.

Existem ainda dois riscos adicionais. O primeiro tem a ver com o "risco da performance" da equipa. Se Jorge Jesus não entrar bem na época, ou se o Benfica perder muitos pontos na primeira parte do campeonato, o número de assinantes tenderá a estagnar ou mesmo a diminuir ao longo da época. Por causa disso, deverá também a Benfica TV apostar noutros mercados, por exemplo os ingleses a viverem em Portugal, que assinarão por causa da Premier League.

Finalmente, há um risco evidente, que é o "risco de marca".

Os clubes de futebol têm consumidores muito fiéis dos seus produtos, mas raramente conseguem atrair consumidores de outros clubes. Só uma pequena parte dos assinantes da Benfica TV serão adeptos de outros clubes portugueses, e é quase certo que sportingusitas, portistas e outros, jamais assinarão o canal.

Assim, uma importante parte do mercado está excluída à partida, e o crescimento da base de assinantes tem um limite natural difícil de ultrapassar.


A minha conclusão final, que partilhei com os meus alunos de Economia do Desporto, é pois a de que a Benfica TV é um projecto original e muito corajoso, que vai alterar drásticamente o mercado de direitos televisivos em Portugal, mas tem riscos financeiros que não podem ser desprezados.

Chegar aos 150 mil assinantes parece-me perfeitamente possível, mas chegar aos 250 mil parece-me difícil para já, até porque a SportTV também reagiu e vai lançar um canal "low cost" para evitar a fuga de assinantes.

Veremos como correm os próximos meses, e prometo voltar ao tema quando a situação se tornar mais clara.

 

 

publicado às 10:32


Sobre o autor

Domingos Amaral é professor de Economia dos Desportos (Sports Economics) na Universidade Católica Portuguesa. É também jornalista e escritor e tem o blog O Diário de Domingos Amaral.

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