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Domingos Amaral
Segundo notícias conhecidas ontem, e hoje reproduzidas em muitos jornais, a RTP adquiriu os direitos da Liga dos Campeões para os próximos três anos, entre 2015 e 2018, pela quantia de 18 milhões de euros!
Depois de se ter retirado, e bem, dessas guerras em 2012, seguindo as instruções de um governo liberal que não queria nem podia suportar despesas com jogos milionários, a RTP volta agora ao jogo, embora o Governo seja ainda o mesmo.
A primeira pergunta que se deve colocar é: deve uma empresa que dá prejuízo ao Estado, e portanto aos contribuintes, concorrer a um concurso da Liga dos Campeões, pagando milhões de euros?
A resposta é óbvia: não deve. Uma empresa pública fortemente deficitária deve gastar o seu pouco dinheiro noutras prioridades.
A segunda pergunta que se deve colocar é: deve essa empresa fazê-lo numa época de austeridade, em que o Governo corta pensões e subsídios a muitos, e aumenta os impostos de todos os portugueses?
A resposta é óbvia: não deve. Que moral tem o Governo para pedir sacrifícios aos portugueses, quando depois a RTP gasta milhões com jogos de futebol?
A terceira pergunta que se deve colocar é: deve a RTP entrar na disputa dos jogos da Liga dos Campeões quando há canais privados (TVI e SportTV) dispostos a isso?
A resposta é: não, não deve. Não havendo uma falha de mercado, não há razão nenhuma para a RTP concorrer contra os canais privados.
A quarta pergunta que se deve colocar é: deve a RTP pagar milhões a uma entidade milionária como a UEFA e os seus intermediários, que são quem vende os direitos da Liga dos Campeões?
A resposta óbvia é: não, não deve. Se tem 18 milhões de euros para gastar, a RTP deveria usá-los a financiar programas nacionais, e não a encher os cofres de instituições estrangeiras que já são podres de ricas.
Mas, infelizmente, temos um Governo que só é liberal e poupado quando lhe dá jeito.
Promete não interferir em negócios privados, mas interfere; e promete poupar dinheiro ao contribuinte, e esbanja-o em jogos da liga milionária.
Nas últimas nove temporadas, o vencedor do título nacional foi sempre o clube que tinha a despesa salarial mais elevada.
A relação entre o título de campeão nacional e despesa salarial elevada é muito forte, em Portugal e lá fora.
Na última temporada, por exemplo, os campeões de Inglaterra (City), Itália (Juventus), Alemanha (Bayern), França (PSG), Holanda (Ajax) e Portugal (Benfica), foram os clubes que tinham a despesa salarial mais elevada no seu país.
Só em Espanha a regra não se verificou, com o Atlético de Madrid a ultrapassar Barcelona e Real Madrid, que gastaram mais em salários e em prémios.
Porque é que esta relação é tão forte?
Simples: os clubes que têm maior despesa salarial são os que têm jogadores mais bem pagos (salários e prémios), e isso significa que têm melhores jogadores que os rivais, pois os salários são o melhor indicador da qualidade dos jogadores.
Conclusão 1: se a despesa salarial é mais elevada é porque o clube tem melhores jogadores.
Conclusão 2: o clube que tem melhores jogadores normalmente é campeão.
Para quem tem dúvidas desta relação tão forte e poderosa, passo a apresentar os números para as últimas nove épocas em Portugal.
Quem foi campeão o ano passado? O Benfica, que tinha uma despesa salarial de cerca de 52 milhões de euros, contra os 44 m€ do FC Porto e os 22,5 m€ do Sporting*.
E em 2012/2013, quem foi o campeão? O FC Porto, que tinha uma despesa salarial de 45 m€, contra os 43 m€ do Benfica e os 37 m€ do Sporting (ainda de Godinho Lopes).
Em 2011/2012, o mesmo se verificou. FC Porto campeão, despesa salarial de 41,8 m€, contra os 41m€ do Benfica, e os 38m€ do Sporting. Foi à risca, mas deu para ser vencedor.
E em 2010/2011, a história foi idêntica: FC Porto vence campeonato, despesa salarial de 42 m€, contra os 38 m€ do Benfica e os 26,6 m€ do Sporting.
E quem foi campeão em 200/2010, ano da chegada de Jorge Jesus ao Benfica? Pois foi o Benfica, que tinha também a maior despesa salarial, com 34,3 m€, à frente do FC Porto, com 32m€, e do Sporting, com 20,8 m€.
E, se olharmos para os quatro anos anteriores, entre 2005/2006 e 2008/2009, o FC Porto foi sempre campeão, e teve sempre a despesa salarial mais elevada que os seus rivais.
Gastou respetivamente 31,4 m€, 30,6 m€, 34,8 m€ e 39,7 m€, enquanto o Benfica ficava sempre abaixo (27,7 m€, 23,6 m€, 24,4 m€, 33,4 m€), e o Sporting ainda mais abaixo (15,6 m€, 19,4 m€, 17,8 m€ e 21,3 m€).
É esta regra infalível? Não, claro que não é, todos os anos há excepções em alguns países.
Em Portugal, por exemplo, essa regra não se verificou em 2001/2002, com o Sporting campeão, e em 2004/2005, com o Benfica a vencer.
Mas, normalmente, em 90 por cento dos casos, a regra verifica-se, e o campeão é o clube que gasta mais em despesa salarial.
E quem será então o campeão de Portugal esta temporada?
Em início de Dezembro, conto apresentar a minha previsão, já não falta muito.
* Os números são retirados dos Relatórios de Contas das SAD´s dos clubes, sendo considerada despesa salarial com jogadores e treinadores cerca de 90% do total de gastos com o pessoal de cada SAD.
Quando o BES faliu, logo nasceram umas narrativas tenebrosas.
Muita gente disse que os clubes de futebol portugueses iam afundar com o BES.
Muita gente escreveu que a venda de muitos jogadores do Benfica se devia à crise do BES.
Aparentemente, o futebol nacional vendia pendurado num banco que falira, e ia falir também.
Vários meses depois, nada de tão trágico aconteceu.
Ontem, a SAD do Benfica informou que o Novo Banco ficaria com os 8% da SAD do Benfica que pertenciam ao BES, normalizando assim a relação entre o banco e o clube.
A narrativa tenebrosa que se ouviu em Julho e Agosto era bastante exagerada.
Afinal, os clubes de futebol, como muitas outras empresas nacionais, foram afectados pela falência do BES, mas não foram arrastados por ela para o desastre.
Como é normal, depois da turbulência e da incerteza, as coisas voltam a compôr-se, e os clubes vão continuar a trabalhar com a banca, como acontece em toda a Europa.
O Benfica vendeu jogadores por causa da crise do BES? Nada mais falso.
Rodrigo, André Gomes e Matic foram vendidos em Janeiro, muito antes da crise do BES.
Cardozo e Garay eram para ter saído um ano antes, ou em Janeiro, e teriam sido vendidos com falência ou sem falência do BES.
Dos jogadores vendidos em Julho, só Oblack e Markovic o foram depois da crise do BES, e era sabido que Markovic só iria ficar um ano em Portugal, e que Oblack se recusou a voltar a Lisboa, e foi vendido contra a vontade do Benfica, pela cláusula de rescisão.
Portanto, a fuga de jogadores não teve nada a ver com a falência do BES, a não ser uma coincidência temporal, que permitiu aos preguiçosos mentais encontrarem uma ligação tenebrosa, mas errada, entre os dois acontecimentos.
Seis meses depois da falência do BES, Benfica, FC Porto e Sporting continuam a pagar as suas contas, a jogar como sempre, e nada de catastrófico aconteceu, para grande desgosto de muita gente...
Com o primeiro quarto da época já feito, Lopetegui está a obter melhor resultados gerais do que Jesus ou Marco Silva.
Se tomarmos como indicador a percentagem de vitórias, é ele quem tem a melhor.
Para obter este indicador, e por convenção internacional, decidiu-se atribuir 2 pontos por vitória e 1 ponto por empate, pois assim é possível fazer comparações histórias com o passado, quando as vitórias valiam apenas 2 pontos.
Assim, a percentagem de vitórias obtém-se multiplicando o número de vitórias por 2, o número de empates por 1, e dividindo a soma dessas duas parcelas pelo total máximo de pontos que se poderia obter nos jogos já realizados.
Vejamos o que se passa com o FC Porto.
Até agora, realizou 14 jogos, 9 para o campeonato, 4 na Champions e 1 na Taça de Portugal.
Obteve no total 9 vitórias, 4 empates e apenas 1 derrota, para a Taça.
A sua percentagem de vitórias é pois ( (2x9) +4) a dividir por (2x14).
O FC Porto tem pois 78,5% de percentagem vitórias.
Está em segundo no campeonato, já qualificado para a fase seguinte da Champions, mas foi eliminado da Taça, sendo o único dos três clubes que já saiu de uma das competições.
Quanto ao Benfica, realizou 15 jogos, pois jogou a Supertaça, onde obteve um empate no tempo regulamentar.
Conseguiu até agora 9 vitórias, 3 empates e foi derrotado por 3 vezes, 2 na Champions e 1 no campeonato.
A sua percentagem de vitórias é pois ( (2x9) + 3) a dividir por (2x15).
O Benfica tem pois 70% de percentagem de vitórias.
Está em primeiro no campeonato, venceu a Supertaça nos penalties, passou a eliminatória da Taça, mas na Champions está em quarto no seu grupo, sem ter garantido ainda a continuidade nas provas europeias.
O Sporting realizou os mesmos 14 jogos que o FC Porto, e conseguiu até agora 6 vitórias, 5 empates, tendo sofrido 3 derrotas, 1 no campeonato e 2 na Champions.
A sua percentagem de vitórias é pois ( (2x6) + 5) a dividir por (2x14).
O Sporting tem pois 60,7% de percentagem de vitórias.
Está em 6º no campeonato, ainda não garantiu que continua na Europa, mas eliminou o FC Porto no Dragão para a Taça de Portugal.
Comparando com a época passada, podemos dizer que na mesma altura, Paulo Fonseca estava um pouco pior que Lopetegui (tinha 76,6%), Jesus estava também um pouco pior que este ano (tinha 67,8%), e Marco Silva está pior que Leonardo Jardim (este tinha 80%), mas atenção porque Jardim não jogava os jogos europeus, o que dificulta a comparação.
Foram recentemente publicados os números do primeiro ano da Benfica TV.
Com lucros de 17 milhões, receitas que chegam aos 28 milhões e custos de 11 milhões, o canal do Benfica conseguiu superar os 300 mil assinantes logo no primeiro ano, o que para muitos foi uma grande surpresa.
Contudo, logo se levantaram em coro os críticos, garantindo que o negócio foi mau, pois a Olivedesportos/PPTV oferecia 22,2 milhões líquidos por ano.
Esses críticos esquecem um detalhe importante: se o Benfica tivesse aceite a proposta da Olivedesportos/PPTV, os tais 22,2 milhões, o contrato dessa entidade com o FC Porto teria de ser revisto, e a receita dos azuis e brancos subiria automaticamente para 80% da do Benfica, ou seja, para 17,7 milhões de euros, em vez de ficar nos actuais 13 milhões.
É provável que também o Sporting impussesse claúsula semelhante, aumentando também as suas receitas televisivas à conta do Benfica.
Ora, isso não aconteceu. Rejeitando a oferta da Olivedesportos/PPTV, o Benfica impediu que FC Porto e Sporting ganhassem muito dinheiro com os direitos televisivos, e isso foi uma das maiores vantagens da BTV.
Mas, não foi a única. Em 2012/2013, o Benfica facturou cerca de 7,5 milhões de euros em receitas televisivas líquidas dos seus jogos em casa para o campeonato. Na época passada, já com a BTV, esse valor subiu acima dos 17 milhões de euros! Em apenas um ano, o clube mais do que dobrou a sua receita líquida!
Outro dos receios que existiam, era que a BTV tirasse espectadores ao estádio da Luz. Porém, isso não aconteceu. Em 2012/2013, o Benfica teve uma média nos jogos da Liga de 42359 espectadores; e em 2013/2014, essa média subiu para 43613 espectadores por jogo. Portanto, com os mesmos 15 jogos em casa, o Benfica teve mais 18810 espectadores do que no ano anterior.
Por fim, poucos acreditavam que logo no primeiro ano a BTV conseguisse ultrapassar os 250 mil assinantes. Contudo, a surpresa foi grande. A BTV ultrapassou os 300 mil assinantes, e ainda melhor do que isso, a taxa de mortalidade dos assinantes, ou seja as desistências, foram baixas.
É certo que todos podem dizer que a época desportiva foi excelente, e que isso dificilmente se repetirá. Mas, não é um argumento muito válido. A maioria dos assinantes da BTV não vai desistir tão cedo, e portanto se o Benfica conseguir ser de novo campeão, o que é perfeitamente possível, o número de assinantes só tenderá a aumentar ainda mais, até porque a situação económica portuguesa melhorou um pouco.
Em conclusão: a BTV está a ser uma excelente operação, seja na vertente financeira, seja na vertente política. O Benfica autonomizou-se, ganha muito mais do que ganhava antes, e impede a concorrência de ganhar dinheiro à sua custa. E, com um ano bom desportivamente, poderá rapidamente aumentar os seus lucros, e vir a ganhar bem mais do que Olivedesportos/PPTV oferecia.