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Há dias, José Mourinho declarou que a UEFA devia ser mais punitiva com quem não cumpria as regras do "fair play" financeiro.

Em vez de multas pecuniárias, ou proibição de mais contratações, a UEFA devia retirar pontos e títulos aos clubes incumpridores.

O alvo da sua ira era o Manchester City, um concorrente direto do Chelsea, que foi multado em Maio pela UEFA.

Para Mourinho, "se um clube perdesse seis pontos, e o lugar na Champions, teria mais atenção".

 

Talvez Mourinho tenha razão, e talvez no futuro a UEFA se veja obrigada a endurecer as sanções.

A verdade é que a perda de pontos e mesmo de títulos já está prevista, mas a UEFA ainda não chegou a esse extremo.

Era sabido que não ia ser assim, nos primeiros anos da aplicação das regras do "fair play financeiro".

Para já, pelo menos, não houve ainda perda de pontos ou impedimento para participar na Champions ou na Liga Europa.

O Sporting, tal como outros clubes que estão a ser investigados (Roma, Inter, Besiktas, Monaco, e mais alguns) não deverá pois ser penalizado este ano, embora o possa vir a ser no próximo.

 

O que dizem as regras do "fair play" financeiro da UEFA?*

Além de terem de ter a contabilidade em dia, os clubes têm de provar que não têm dívidas por pagar a outros clubes, a empregados, a jogadores ou outros fornecedores. Ter queixas de dívidas por pagar é meio caminho andado para o desastre.

Depois, têm de informar a UEFA de todas as dívidas que têm, para que a UEFA possa controlar o seu grau de endividamento, evitando que ele seja excessivo.

 

Por fim, a regra mais importante diz que os clubes (no caso português as SAD) não podem dar prejuízos durante mais de 3 anos consecutivos.

Esta é a chamada "Break Even Rule", embora seja aceitável um pequeno desvio, de 5 milhões de euros negativos. 

Porém, quem tiver prejuízos superiores a 5 milhões, mais de três anos seguidos, está em sarilhos com a UEFA, a não ser que os proprietários do clube cubram esse desvio com contribuições ou pagamentos. 

Nesse caso, os limites são diferentes, mais folgados, mas não é esse o caso do Sporting. 

Em 2010/2011 teve 43,9 milhões de euros de prejuízos, em 2011/2012 o prejuízo cresceu para os 45,9 milhões, regressando aos 43,8 milhões na época de 2012/2013.

 

Bruno de Carvalho tem razão, quando diz que estes nefastos resultados se devem à anterior gestão de Godinho Lopes, mas será que a UEFA se vai comover com esse argumento?

O Sporting tem um ponto a seu favor: na última época, 2013/2014, o clube fez um gigantesco esforço financeiro de contenção, e regressou aos lucros, tendo atingido os 368 mil euros positivos.

E, já esta época, o clube não perdeu a cabeça com contratações, e gastou pouco dinheiro.

A sangria parece estar pois contida, e a direção suicida alterada, e a UEFA tem certamente de ser sensível a isso.

 

No entanto, dificilmente o Sporting escapará a uma vigilância apertada da UEFA, e veremos se haverá ou não alguma sanção.

E é evidente que, nas próximas épocas, o Sporting terá de continuar a apertar o cinto, para evitar problemas.

O caminho é apertado, mas se o rumo se mantiver, e se os resultados desportivos melhorarem, é possível sair deste ciclo perigoso.

Se o Sporting conseguir vender bem algum jogador, ou se facturar muito este ano nas competições europeias, a situação melhora.

Até agora, nos seus actos de gestão, Bruno de Carvalho tem demonstrado que percebe o problema.

Esperemos que não se entusiasme em demasia, e não cometa erros que podem deitar tudo a perder... 

 

* Quem quiser ver ao pormenor as regras do "fair play" financeiro da UEFA vá a 

http://pt.uefa.com/community/news/newsid=2065454.html

publicado às 10:09

Há muitos anos que tal não se verificava, e por isso trata-se de um momento histórico para os clubes de Lisboa.

Tanto a SAD do Benfica como a SAD do Sporting deram lucro na época 2013/2014.

É uma raridade cada um deles dar lucro, e é uma raridade darem ambos lucro ao mesmo tempo, mas só pode ser considerado bom sinal.

 

Comecemos pelo Sporting.

O valor dos lucros é ainda curto, 368 mil euros, mas o que é importante de realçar é a grande recuperação que o clube consegue apenas numa época.  

Em 2012/2013, os prejuízos tinham sido de 43,8 milhões de euros, uma tragédia colossal.

Ora, em apenas uma época, o clube consegue inverter de negativo para positivo, o que é notável.

 

Como eu sempre aqui escrevi, Bruno de Carvalho tem tomado excelentes medidas de gestão.

Como gestor, tem dado provas de saber o que está a fazer, embora a sua imagem mediática ainda tenha muito para melhorar.

A poupança nos gastos operacionais é enorme, tendo o clube gasto menos 36 milhões de euros em despesas gerais, e menos 3 milhões de euros em gastos financeiros.

Como as receitas operacionais também subiram um pouco, mais 5 milhões de euros, o resultado final é positivo.

 

Portanto, o clube não só conseguiu uma época desportiva bastante bem sucedida, tendo ficado em 2º lugar no campeonato, e garantido a classificação directa para a Champions; como conseguiu uma boa época económica, estabilizando e estancando a sangria dos anos anteriores.

Goste-se ou não de Bruno de Carvalho, a verdade é que nas duas frentes ele foi bem sucedido, conseguindo um início de um pequeno círculo virtuoso que o clube já não vivia há vários anos.

 

O grande desafio é a continuação, mas pelo que tenho visto, o Sporting não perdeu a cabeça, e ainda bem. 

Não se pôs a gastar à louca em contratações, e tentou reforçar o plantel dentro das suas possibilidades.

Nani é um bom jogador, e Marco Silva, apesar dos problemas iniciais, parece ser bom treinador.

Espera-se é que o Sporting não entre de novo em auto-destruição ao primeiro solavanco, pois este é o caminho, mas não se pode ter pressa.

 

Passemos ao Benfica. 

Como aqui já tinha previsto, este foi o melhor ano de sempre do Benfica em quase três décadas.

Desportivamente, ganhou todos os títulos nacionais (Campeonato, Taça de Portugal, Taça da Liga e Supertaça) e ainda foi finalista na Liga Europa.

E financeiramente, regressou aos lucros, tendo obtido um resultado positivo de 14,1 milhões de euros.

Depois de cinco anos consecutivos de prejuízos, o Benfica volta ao lucro, e a subida é muito relevante, pois o ano passado tinham sido 10,3 milhões de prejuízos.

 

Os grandes responsáveis por estes resultados positivos são 3: a Benfica TV, as provas europeias, e a venda de jogadores.

Nos direitos televisivos, o Benfica passou de uma facturação de 8 milhões no ano anterior, para 28,1 milhões de euros, mais que triplicando as suas receitas neste item.

Os prémios da UEFA, da fase de grupo da Champions, da Liga Europa e ainda a receita por a final da Champions ter sido na Luz, ultrapassaram os 22 milhões de euros.

Com estes dois números tão relevantes, o clube ultrapassou pela primeira vez na sua história os 100 milhões de euros em receitas operacionais, o que é um feito extraordinário num mercado tão curto como o português.

 

A isto ainda há que somar as receitas extraordinárias.

Na venda dos jogadores, foram essenciais as transacções de Matic, Rodrigo e André Gomes, logo em Janeiro, o que representou uma receita líquida da SAD de mais de 58 milhões de euros, aos quais ainda há a acrescentar as vendas de Melgarejo, Rodrigo Mora, Garay e Kardec.

Tudo somado, as receitas chegam ao notável número de 184,7 milhões de euros, o que confirma a existência de um círculo virtuoso no clube.

 

Houve investimento forte, houve títulos, houve receitas fortes, e por isso o clube está de boa saúde e recomenda-se.

O grande desafio deste ano é repetir os bons resultados, o que não será fácil, pois o FC Porto investiu muito e tem este ano um plantel mais forte que o Benfica. 

Será que a estabilidade e os novos jogadores vão conseguir tão bom como no ano passado?

Teremos de ver como tudo acaba, por agora é cedo.  

publicado às 10:41

Depois de ter vendido vários bons jogadores, o valor do plantel do Benfica caiu.

Segundo o transfermarkt, um bom site de avaliação do valor económico de jogadores e clubes, o plantel do Benfica vale agora apenas 159,65 milhões de euros, está abaixo do FC Porto, e não está sequer nos 25 primeiros da Europa.

Já o Zenit está bem acima, com um valor total de plantel (soma do valor económico de todos os jogadores) de 204,65 milhões de euros.

Portanto, se compararmos os valores, temos que o Zenit é neste momento uma equipa mais forte, pelo menos no papel.

 

Mas, e quanto ao onze de ambos os clubes, há também importantes diferenças?

Sim, elas existem. 

Se o Zenti alinhar com Lodygin, Smolnikov, Garay, Lombaerts, Criscito, Javi, Witsel, Faizulin, Danny, Hulk e Kerzhakov, este onze vale um total de 165 milhões de euros.

Quanto ao Benfica, se alinhar com aquela que vem sendo a equipa titular, Artur, Maxi, Luisão, Jardel, Eliseu, Enzo, Samaris, Talisca, Salvio, Gaitan e Lima, vale no total cerca de 94 milhões de euros.

Mais uma vez, a diferença é relevante.

 

Mas, jogando o Benfica em casa, e tendo mais experiência que o Zenit nestas andanças, talvez estas diferenças se estreitem um pouco dentro de campo.

publicado às 10:09

Sempre que oiço os críticos de Paulo Bento, dou-lhes total razão, mas logo acrescento a pergunta: e quem seleccionavas tu?

As pessoas ficam atrapalhadas, falam em Quaresma, Carlos Mané, até num tal de Tomané que joga no Guimarães, e eu pasmo...

Importam-se de repetir? Acham mesmo que a seleção nacional ficaria melhor com um Ruben Neves, um Adrien, um Eliseu?

Talvez valha a pena descer um pouco à terra, digo eu...

 

A realidade é dura, mas há que enfrentá-la, e a realidade é que, por mais convocatórias que cada um de nós faça, não alteramos a coisa.

Hoje, não há em Portugal jogadores suficientes para construir uma grande seleção, essa é que é essa.

O tempo em que éramos uma das seis ou sete melhores seleções do mundo já passou.

Não há jogadores como Figo, Rui Costa, Deco, Maniche, Sérgio Conceição, Paulo Sousa, Ricardo Carvalho, e mais alguns.

Com a excepção Cristiano Ronaldo, e uma ou duas vezes Fábio Coentrão, o resto da seleção vale pouco.

E não há substitutos que se vejam, por mais que puxemos pela cabeça.

 

Quem devia ser a dupla de centrais? Tire-se Pepe, Costa e Bruno Alves, e quem resta?

Neto? Nem joga sempre no seu clube...Vezo? Ouvi dizer que vai ser emprestado pelo Valência...

E nas laterais, se não jogar João Pereira, quem temos? André Almeida? Cedric? 

Passemos ao meio-campo: acham mesmo que Ruben Neves iria transportar-nos para o céu, com Adrien ao lado?

E quem tiravam? William?

 

Nani ainda mexe, mas Quaresma seria melhor, apesar de nem jogar no FC Porto?

E queriam Bebé, que não é titular no Benfica, ou Mané, que não é titular no Sporting?

Pois é, a realidade é dura.

Podemos criticar Paulo Bento, e eu também acho que ele não tem andado nada bem desde Novembro, mas será que um treinador diferente conseguia mudar o panorama geral de fraqueza?

 

Temos infelizmente todos de meter na cabeça que a nossa seleção caiu muito de qualidade, e por isso não vale a pena ter muitas aspirações.

Somos, e seremos nos próximos cinco ou dez anos, uma seleção mediana, como fomos nos anos 70 e 80, capaz de um inesperado brilharete, mas com uma qualidade geral muito fraquinha.

São as seleções medianas que perdem com as fracas, como ontem aconteceu com a derrota com a Albânia, e não conseguem vencer as grandes, como aconteceu no Mundial com a derrota com a Alemanha.

 

É triste mas é a realidade, e mandar embora Paulo Bento só vai alimentar a ilusão de que as coisas podiam ser diferentes.

Não podiam, nem serão. A mediania regressou, não há volta a dar-lhe.

O único conforto é que não somos os únicos.

Itália, Inglaterra, Polónia, Bulgária, Roménia, República Checa, e até a França e talvez em breve a Espanha, todas foram grandes seleções no passado, mas no presente não passam da vulgaridade.

É assim a vida, habituem-se.

 

publicado às 11:45


Sobre o autor

Domingos Amaral é professor de Economia dos Desportos (Sports Economics) na Universidade Católica Portuguesa. É também jornalista e escritor e tem o blog O Diário de Domingos Amaral.

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oeconomistadabola@gmail.com

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