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O valor de mercado de uma seleção é um bom indicador para prever se ela passará a fase seguinte do Mundial?

Provavelmente não, mas vamos à análise de cada um dos grupos.

Para isso, uso a avaliação de mercado feita às 32 seleções pela empresa brasileira Pluriconsultoria, que publica excelentes relatórios económicos sobre futebol.

Somando o valor de mercado dos 23 convocados, chega-se ao valor de mercado de cada seleção.

 

Vejamos então o que se passou no Grupo A: 

Passam Brasil (que vale 508,7 milhões de euros) e México (que vale 47 m€, o que eu acho pouco, mas é esse o valor atribuído).

Foram eliminadas a Croácia (162,9 m€) e os Camarões (122,7 m€).

Portanto, o México conseguiu eliminar 2 seleções com um valor de mercado muito superior, o que é muito bom. 

 

No grupo B:

Passam a Holanda (que vale 161,6 m€) e o Chile (135,4 m€), e foram eliminadas a Espanha (504 m€) e a Austrália (23,6 m€)

Nenhuma surpresa quanto à Austrália, mas Holanda e Chile conseguem vencer uma seleção espanhola que vale mais de três vezes que qualquer uma delas.

 

No grupo C:

Passam a Colômbia (vale 218,6 m€) e a Grécia (64,7 m€) e são eliminadas a Costa do Marfim (129,1 m€) e o Japão (105,8 m€)

Se não existe surpresa na passagem da Colômbia, a Grécia consegue um feito notável, eliminando duas seleções mais valiosas. 

 

No Grupo D:

Passam a Costa Rica (vale 20,8 m€) e o Uruguai (vale 185,2 m€) e ficam pelo caminho a Itália (vale 315,8 m€) e a Inglaterra (312 m€).

Este é o grupo mais surpreendente, pois é vencido pela seleção menos valiosa do Mundial, e são eliminadas as duas mais valiosas do grupo, Itália e Inglaterra.

Neste grupo, a economia foi totalmente derrotada pela eficácia desportiva.

 

No Grupo E:

Passam a França (vale 373,4 m€) e a Suíça (124,1 m€) e foram eliminadas o Equador (vale 69,2 m€) e as Honduras (24,3 m€)

Nenhuma surpresa neste grupo, vence o mais forte, passam os mais valiosos.

 

No Grupo F:

Passam a Argentina (vale 475,2m€) e a Nigéria (vale 89,5 m€) e foram eliminadas a Bósnia (vale 121 m€) e o Irão (21,9 m€)

Nenhuma surpresa quanto ao vencedor, mas a Nigéria eliminou a Bósnia, que tem um valor de mercado mais elevado.

 

No Grupo G:

Passam a Alemanha (vale 465,5 m€) e os Estados Unidos (51,3 m€) e foram eliminadas Portugal (vale 309,6 m€) e o Gana (84,3 m€).

Duas surpresas, pois Portugal e Gana têm um valor de mercado superior aos EUA, mas foram eles que passaram.

 

No Grupo H:

Passam a Bélgica (vale 319,6 m€) e a Argélia (63 m€) e foram eliminadas a Rússia (vale 169 m€) e a Coreia do Sul (46,1 m€).

Também aqui há uma surpresa, pois a Argélia tem um valor de mercado inferior ao da Rússia, mas conseguiu eliminá-la.

 

 

Em conclusão, podemos dizer que neste Mundial 2014, o valor económico das seleções não é um indicador muito fiável para avaliar das suas capacidades.

Croácia, Camarões, Espanha, Costa do Marfim, Japão, Itália, Inglaterra, Bósnia, Portugal, Gana e Rússia, um total de 11 seleções, foram afastadas da prova por seleções com menor valor de mercado. 

As grandes surpresas são a Costa Rica e o México, as menos valiosas que conseguiram seguir em frente.

 

Por fim, deixo aqui um quadro com os embates dos oitavos de final, em valor de mercado:

Brasil (508,7 m€) - Chile (135,4 m€)

Holanda (161,6 m€) - México (47 m€)

Colômbia (218,6 m€) - Uruguai (185,2 m€)

Costa Rica (20,8 m€) - Grécia (64,7 m€)

França (373,4 m€) - Nigéria (89,5 m€)

Argentina (475,2 m€) - Suíça (124,1 m€)

Alemanha (465,5 m€) - Argélia (63 m€)

Estados Unidos (51,3 m€) - Bélgica (319,6 m€)

 

Veremos se o valor económico continua a não ser determinante, ou se vai contar mais a partir daqui.  

 

 

publicado às 12:35

Ontem num post sobre a venda de Garay ao Zenit cometi um erro grave.

Não me passava pela cabeça que fosse possível que o Benfica tivesse feito um negócio tão ruinoso (e estranho) com a venda de Garay.

Argumentei que o negócio era diferente, e fi-lo de boa fé, convencido que estava a escrever a verdade.

Pelos vistos, é mesmo verdade que o negócio é muito mau (e estranho), como é dito no esclarecimento prestado pelo Benfica à CMVM.

Obrigado aos leitores por me terem tentado esclarecer, mas eu não queria mesmo acreditar....

 

PS: Segundo me dizem certas fontes, vai existir outro negócio entre Benfica e Zenit, que compensará esta estranha venda de Garay.

Fico à espera para ver.

publicado às 00:26

Sinceramente, não acredito que Portugal siga em frente.

Seriam precisos 2 milagres no mesmo dia, e à mesma hora, para isso acontecer.

Um milagre, ainda vá, às vezes acontece. Mas dois milagres? Isso nunca aconteceu.

 

Até porque, bem vistas as coisas, o Gana está bem mais perto de passar do que nós. 

Dos quatro jogos que vi no nosso grupo, acho o Gana mais forte que Portugal, e até que os Estados Unidos.

Perdeu com os americanos mas teve azar, e empatou com a Alemanha, mas podia ter ganho, e até merecia.

Portanto, acho mais provável o Gana vencer-nos, do que nós vencermos o Gana.

Bem sei que há problemas internos, discussões sobre dinheiros, essas coisas.

Mas, na hora do jogo tudo será esquecido e o Gana jogará como sabe, que é muito.

 

Quais são as probabilidades deles e nossas?

Bom, se Alemanha e Estados Unidos empatarem, que é o cenário mais provável, a probabilidade é zero.

Apesar das declarações todas muito honradas e as juras de jogar para a vitória de Klinsman e Low, a verdade é que o empate deixa ambas as equipas no Mundial, e nenhum alemão ou americano será louco suficiente para pôr isso em risco.  

Portanto, se houver empate no primeiro jogo, o resultado do Portugal-Gana será completamente indiferente.

 

Mas, admitamos que algo acontece e alguém marca um golo no Alemanha-Estados Unidos.

Se forem os americanos a vencer por 1-0, em que situação fica o grupo?

Os EUA ficam com 7 pontos, e os alemães com 4, com uma diferença de golos de +3 (6 marcados e 3 sofridos).

Nessa caso, o Gana teria de vencer Portugal por 4-0, ficando com 4 pontos e com uma diferença de gols idêntico de +3, mas com 7 marcados e 4 sofridos.

Só assim o Gana passava, o que convenhamos é muita fruta.

E Portugal?

Bom, Portugal teria de vencer o Gana por 7-0, pois está com -4 e teria de igualar os +3 da Alemanha, ficando com 9 marcados e 6 sofridos.

É completamente impensável!

Portanto, caso os EUA vençam, as probabilidades de Gana e Portugal são mínimas, para não dizer inexistentes.

 

Agora, admitamos o cenário contrário, a Alemanha a vencer por 1-0.

Nesse caso, a Alemanha conseguia 7 pontos, e os Estados Unidos ficavam com 4, com diferença de golos de 0 (4 marcados, 4 sofridos).

Ora, o Gana parte com -1 em golos, e vencer por 1-0 não chegava pois ficavam ambos com diferença de 0, com os mesmos 4 marcados e os mesmos 4 sofridos, mas aí passavam os Estados Unidos pois venceram o Gana.

Portanto, o Gana teria de vencer Portugal por 2-1. 

Assim, ficaria com 4 pontos e uma diferença de golos de 0, mas com 5 marcados e 5 sofridos, ultrapassando os americanos por ter mais golos marcados, critério que se sobrepõe nos mundiais ao resultado do jogo entre ambos.

Ora, vencer Portugal por 2-1 não é nada impossível, e como se vê o Gana está muito mais perto de passar do que Portugal.

 

É que nós, no caso de vitória alemã por 1-0, teríamos de vencer o Gana por 4-0, para igualar os americanos, ficando com 0 em diferença de golos, mas com 6 marcados e 6 sofridos, e por isso passávamos nós, pois tínhamos marcado mais golos.

Como é óbvio, é bem mais difícil Portugal vencer o Gana por 4-0, do que o Gana vencer Portugal por 2-1.

Portanto, se a Alemanha vencer os Estados Unidos pela diferença de 1 golo, é bem mais provável que seja o Gana a passar do que Portugal. 

 

Só no caso de existir um resultado mais desnivelado no primeiro jogo é que as hipóteses de Portugal se aproximam das do Gana.

Imaginemos que, por milagre, a Alemanha vence os Estados Unidos por 3-0.

Nesse caso, passam os alemães com 7 pontos, e os americanos ficam com 4 pontos e uma diferença negativo de -2 golos (4 marcados, 6 sofridos).

No outro jogo, ao Gana bastaria vencer Portugal por 1-0, e passava.

Já Portugal teria vencer por 2-0, para pelo menos garantir a moeda ao ar entre Portugal e EUA, o que já daria pelo menos 50% de probabilidades à nossa seleção.

Seria o segundo milagre!

Porém, convenhamos que uma derrota dos EUA por muitos é um cenário muito pouco provável...

 

Em conclusão, as probabilidades totais de Portugal e Gana são pequenas, mas as de Portugal são muito mais pequenas do que as do Gana.

Como se vê, não basta um milagre para Portugal passar, são precisos dois milagres e simultâneos, no mesmo dia e à mesma hora!

Ora, um milagre ainda pode acontecer, mas dois no mesmo dia, nem em Fátima!

publicado às 12:20

Os últimos 5 jogos não correram muito bem a Paulo Bento.

Com 3 jogos de preparação e 2 no Mundial, Paulo Bento conseguiu 2 vitórias, 2 empates e 1 derrota.

Se olharmos para o que é o seu trabalho na selecção, veremos que fez até agora 42 jogos no comando da equipa, o que o coloca como o 4º treinador com mais jogos.

Scolari é o primeiro, com 74 jogos pela seleção; segue-se Carlos Queiróz, com 49 jogos e Oliveira, com 44 jogos.

 

Mas, se verificarmos o indicador da "percentagem de vitórias", Paulo Bento caiu e já tem resultados piores que Oliveira.

Segundo a convenção internacional usada nestes estudos, para calcular a percentagem de vitórias, as vitórias valem 2 pontos e os empates 1.

Assim, Paulo Bento tem 24 vitórias, 11 empates, e 7 derrotas, o que dá um total de 59 pontos  (24x2 + 11) em 84 possíveis (2x42 jogos).

A percentagem de vitórias de Paulo Bento é pois de 70,2%.

Com esse resultado, ele é o quarto treinador no ranking de percentagem de vitórias, quando antes do Mundial começar era o terceiro, à frente de António Oliveira.

 

Veja aqui o quadro dos 6 melhores treinadores de sempre da seleção:

 

Manuel Luz Afonso - 20 jogos, 15 vitórias, 2 empates, 3 derrotas - percentagem de vitórias de 80%

Humberto Coelho - 24 jogos, 16 vitórias, 4 empates, 4 derrotas - percentagem de vitórias de 75%

António Oliveira - 44 jogos, 26 vitórias, 10 empates, 8 derrotas- percentagem de vitórias de 70,4%

Paulo Bento - 42 jogos, 24 vitórias, 11 empates, 7 derrotas - percentagem de vitórias de 70,2%

Luís Filipe Scolari - 74 jogos, 42 vitórias, 18 empates, 14 derrotas- percentagem de vitórias de 68,9%

Carlos Queiroz - 49 jogos, 25 vitórias, 16 empates, 8 derrotas - percentagem de vitórias de 67,3%

 

 

publicado às 11:42

Quem são os portugueses para acharem que vão ganhar 5-0 ao Gana?

É preciso ter um descaramento dos diabos para, depois de levar 4 bolachas da Alemanha, e não ter sofrido um KO dos Estados Unidos por milagre, ainda ter o atrevimento para achar que vamos golear o Gana!

Será que os portugueses têm andado a ver o mesmo Mundial que eu?

O Gana jogou muito bem contra os Estados Unidos, mas teve azar e perdeu, e jogou muitíssimo bem contra a Alemanha, e merecia ganhar mas empatou.

Ganhar ao Gana, com a equipa que temos? Deve ser piada.

Teremos muita sorte se não formos nós a ser goleados pelo Gana, e o mais provável é perdermos o jogo, pois jogamos muito pior que eles.

 

Aliás, o golo de Varela só serve para prolongar uma agonia que já se sente desde os 4-0 com que a Alemanha nos brindou.

É um golo que dá jeito para muita gente se iludir com essa disparatada hipótese, a de continuar, depois de vencer o Gana por não sei quantos.

Importam-se de repetir?

Será que ainda ninguém percebeu que ganhar, mesmo por 15-0, não vai servir de nada?

É evidente que Alemanha e Estados Unidos vão jogar para o empate, e assim passam ambos, sendo absolutamente indiferente o resultado do Portugal-Gana.

Sim, eu se fosse a eles também "combinava" empatar, e não me preocupava mais com o assunto.

Klinsman e Klose são amigos, a Alemanha fica em primeiro, os Estados Unidos em segundo, empate a zero, e não se fala mais nisso.

Há quatro anos, foi o que nós fizémos também, empatando 0-0 com o Brasil no último jogo, e deixando de fora a Costa do Marfim.

 

A dura verdade é esta: ao final de quatro jogos, pode-se dizer que Portugal é a pior equipa do seu grupo.

Fizemos uma exibição miserável contra a Alemanha, e apenas sofrível contra os Estados Unidos.

Temos uma defesa que mete água, um meio-campo amorfo, e um ataque irregular.

Quando nos comparamos com os outros, saímos naturalmente a perder, e por isso não deve ser surpresa para ninguém o regresso a casa.

 

Temos todos de meter na cabeça que o ciclo de ouro da Seleção Nacional há muito que acabou.

Desde 2008 que temos vindo sempre a descer de qualidade, e a única surpresa foi o Euro 2012, onde conseguimos ser inesperadamente bons.

No resto, têm sido qualificações sempre em esforço, nos play-offs (2008, 2010, 2012, 2014), e fases finais fraquitas (2008 e 2010) ou muito fracas (2014).

A seleção não tem grandes jogadores ao seu dispôr, o talento é pouco, e ter Ronaldo não chega.

Para mais, este ano chegámos ao Brasil com demasiados jogadores fora de forma ou lesionados.

Pepe, Coentrão, Meireles, Veloso, Hugo Almeida, Hélder Postiga, Nani, Ronaldo, já estavam "chochos" quando aterraram em Campinas e só pioraram.

Como é que se pode aspirar a alguma coisa quando metade dos titulares deviam estar na enfermaria e não no campo?

 

Cristiano Ronaldo tem razão: há selecções muito melhores que nós.

Na verdade, são quase todas melhores que nós. Tirando os Camarões e a Coreia do Sul...

Lamento é que esse discurso de humildade não tenha sido feito por todos desde que se juntaram em Óbidos.

É pena que todos (incluindo Federação e Paulo Bento) tenham andado a "viajar na maionese", iludindo-se a si próprios e a nós.

Mas, num país que andou tanto tempo a viver acima das suas possibilidades, não é de estranhar que também a seleção tenha andado a viver claramente acima das suas possibilidades.

publicado às 12:01

Hoje, os jornais dão conta de uma grande indignação que vai pelas bandas de Campinas.

Segundo consta, ninguém gostou das afirmações de Mourinho sobre o Portugal-Alemanha, e tudo rosna baixinho contra o "special one".

Dirigentes, treinador, equipa técnica, jogadores, elegeram-no agora como o tipo mau, e destilam ódiozinho contra ele.

Lamento dizer à Seleção que Mourinho tem toda a razão, e quem em vez de o odiar, a Seleção devia refletir no que ele disse.

 

E o que disse Mourinho?

Primeiro, que não esperava um resultado tão mau, uma derrota por 4-0. Nisso, não se distingue em nada dos tais 15 milhões de portugueses.

Depois, criticou fortemente Pepe, dizendo que ele, ainda por cima não sendo nascido em Portugal, devia sentir mais pressão para se portar bem.

Meus amigos, conheço muito português que acha que Pepe não mais devia jogar pela Seleção Nacional, devido ao seu vergonhoso comportamento.

Mourinho não foi tão longe, mas como foi o único comentador que não apaparicou Pepe, ou não disse mal do árbitro, todos o odeiam em Campinas.

É mais um sinal de que o juízo da Seleção se está a perder muito rapidamente.

 

Mas, Mourinho foi ainda mais longe e tocou com o dedo na ferida.

Portugal, em fases finais, não tem marcado golos às grandes equipas.

Foi assim no Mundial 2010, ficou a zero contra o Brasil e contra a Espanha.

Foi assim no Euro 2012, ficou a zero contra a Alemanha e contra a Espanha.

Voltou a ser assim este ano, a zero contra a Alemanha.

Ora, isto significa que a equipa não é capaz de mais, vence adversários mais fracos, mas não vence os mais fortes.

 

É isto motivo para odiar Mourinho?

Não, ele apenas constata a verdade.

Porém, se há coisa que os portugueses odeiam é a verdade.

Os portugueses vivem o futebol em negação, negam a verdade constantemente.

Acham que são óptimos, sonham, e depois quando a dura realidade lhes bate à porta, a culpa das derrotas é do árbitro, nunca nossa. 

 

Ainda bem que Mourinho fala a verdade, diz a verdade, pois isso só mostra que percebe imenso de futebol.

Infelizmente para todos nós, na Seleção está tudo a viver em estado de negação, e ainda há gente que acha que temos equipa para ser campeã do mundo.

Pois...Ponham os olhos na Espanha e vejam o filme que nos pode acontecer no Domingo.

publicado às 11:33

Até agora, ouvi muita gente a falar nos "danos psicológicos" de perder por 4-0, mas ouvi poucos a referir o que interessa mesmo.

Nos Mundiais, desde 1998, o primeiro critério de desempate não é os resultados entre as equipas, mas sim a diferença de golos.

Ou seja, o "goal average", para os amigos.

Ora, perder 4-0 contra a Alemanha não é apenas perder 3 pontos, nem sofrer psicologicamente.

Perder 4-0 é cavar um fosso de -4 no "goal average", o que é terrível.

 

Aparentemente, ninguém deve ter pensado nisso antes do jogo.

Paulo Bento entrou para ganhar, esquecendo-se que teria sido bem mais inteligente jogar lá atrás, e sofrer poucos golos, como aconteceu há dois anos, quando perdemos apenas por 1-0.

Acho que faz falta um SIF, um Serviço de Informações de Futebol, que informe os treinadores destas coisas, para eles perceberem que perder por 1 não é o mesmo que perder por 4 numa prova onde o "goal average" é essencial.

Sim, eu sei que se Portugal ganhar os 2 jogos segue em frente, pois faz seis pontos e...

Será que segue mesmo?

Não caros amigos, mesmo com 6 pontos pode voltar para casa.

 

Querem ver um cenário em que isso acontece?

Imaginem que a Alemanha ganha ao Gana por 2-0. Fica com 6 pontos e +6 em golos.

Imaginem também que Portugal vence os Estados Unidos por 2-1.

Portugal ficaria com 3 pontos e -3 em "goal average" e os Estados Unidos manteriam os 3 pontos e ficariam com 0 de "goal average".

 

E se na terceira jornada a Alemanha perder com os EUA por 1-0?

É improvável, mas pode acontecer, e nesse caso teríamos Alemanha com 6 pontos e +5 golos, e EUA com 6 pontos e +1 em golos.

Estão a ver o problema?

É que, nessa situação Portugal teria de vencer no mínimo por 4-0 o Gana, para empatar com o "goal average" americano.

Acham fácil?

Eu não acho, e por isso é que digo que Paulo Bento devia ter escolhido a contenção e não o desafio à Alemanha.

 

 

publicado às 12:54

Há quatro anos, também a Argentina de Maradona levou 4 da Alemanha, nos quartos-de-final do mundial na África do Sul.

O primeiro golo foi logo aos 3 minutos, por...Muller, mas depois a história foi um pouco diferente.

A Argentina foi tentando, e na última meia hora arriscou demais, jogou aberto e...lixou-se.

A Alemanha marcou 3 golos e arrumou para sempre com a carreira de Maradona como treinador.

 

Esta recordação devia ter servido como lição para Portugal, na abordagem do jogo de ontem.

Contra a Alemanha, só vence quem defende muito bem, fechado lá atrás, como a Itália, em 2012, ou a Espanha, em 2010.

Paulo Bento não aprendeu essa lição nos jogos dos outros, nem no seu próprio jogo contra a Alemanha.

Há dois anos, perdemos por 1-0, o que não foi nem fatal, nem humilhante.

Desta vez, tudo foi diferente, e tudo começou com uma péssima escolha de estratégia.

Portugal quis discutir o jogo de igual para igual, e com a Alemanha isso é sempre fatal.

Em vez de jogarmos fechados, a deixar o tempo passar, armámo-nos em carapaus de corrida e tramámo-nos.

 

Mas, esse não foi o único erro grave.

Olhando para a nossa equipa, é impressionante constatar que mais de metade dos 11 tiveram imensos problemas físicos nos últimos meses.

Pepe esteve lesionado, Coentrão e Hugo Almeida também, Meireles idem, Ronaldo é o que se sabe e Nani quase não jogou em seis meses.

Faz algum sentido entrar em campo com tantos problemas físicos e tanta falta de ritmo?

Pepe, Coentrão, Meireles e Hugo Almeida não deviam ter jogado, e Ronaldo e Nani só devem jogar porque sem eles não somos nada.

 

Se juntarmos estes dois erros - a estratégia aberta e a debilidade física - percebemos que Paulo Bento desta vez errou em toda a linha.

Depois, a somar a isso, apareceram os erros individuais, alguns escandalosos e incompreensíveis.

Rui Patrício: dois pontapés oferecidos aos alemães, que só não deram golo por milagre, e uma fífia que deu a Muller o 4-0.

João Pereira: uma falta clara, que deu um penalty.

Bruno Alves: comido no 2-0 no ar, comido no 3-0 no chão.

Pepe: comido no 2-0 no ar, cabeçada a Muller e expulsão.

Coentrão: uma nulidade no ataque e na defesa.

André Almeida: uma fífia no 4-0.

Miguel Veloso: uma nulidade absoluta.

Raul Meireles: outra nulidade absoluta.

João Moutinho: o seu pior jogo de sempre na selecção.

Na verdade, foi a malta do ataque a única que esteve razoável, sobretudo Nani, mas também Ronaldo e Éder tentaram lutar.

 

E agora?

Bem, além de todas estas falhas, houve ainda uma falha clara de informação.

Será que na seleção alguém sabe que o primeiro critério de desempate é o "goal average" e não os resultados entre as equipas?

Sofrer 4 golos e não marcar é um passo na direção do abismo.

Agora, não existe apenas a pressão de ter de ganhar aos Estados Unidos, existe também a obrigação de marcar vários golos, pois eles têm +1, e nós temos -4, no goal average.

Eu sei que ainda é cedo, que se ganharmos os dois jogos seguimos em frente e essas tretas todas, mas depois da maior derrota de sempre, as coisas ficaram mesmo pretas.

Até ontem, o Top 3 das derrotas humilhantes de Portugal eram o Portugal-Marrocos em 86 (1-3); o Portugal-Coreia, em 2002 (0-1); e o Portugal-Estados Unidos, em 2002 (2-3), mas esta derrota entrou directamente para o primeiro lugar.

Mesmo que Portugal avance para a fase seguinte, o que eu acho muito difícil, esta nódoa já ninguém a tira da nossa memória. 

publicado às 12:34

É este o dia porque todos esperamos há meses.

O dia em Portugal entra em campo, no Mundial do Brasil.

Este é o dia com que todos sonhámos, e agora está aí, a hora aproxima-se.

 

Hoje, às 17h, tudo pode começar a ser lindo, ou tudo pode começar a ser difícil.

Mas, pelo menos Ronaldo está em forma, sente-se bem.

Quem tem na sua equipa o melhor jogador do mundo, tem direito ao sonho, direito à esperança.

 

Gostei de ouvir Ronaldo ontem há noite.

Antes, ele era um miúdo, um jovem, um ser irreverente.

Mas, cresceu, e hoje está diferente. Já é um Homem, com H grande, amadureceu, sabe o que vale e sabe falar como um líder.

 

Eu também sinto uma onda especial à volta desta seleção, embora não queira iludir-me demais.

No Brasil, não vamos jogar na nossa casa, mas vamos jogar em casa de amigos, a malta sente-se bem, e eles gostam de nós.

O sentimento é pois de esperança, de crença.

 

Sim, tenho os pés assentes na terra, mas como não são os meus pés que vão jogar, mas sim os do Ronaldo, a terra mexe-se quando ele corre, e portanto pode girar à volta do sol de outra forma.

Conseguirá ele tirar o planeta da órbita previsível, criar um mundo novo para nós? 

Ninguém sabe, é muito cedo, ainda quase nada começou.

 

Mas, sinto que o grupo de Campinas está muito unido, com um grande ambiente de equipa, e isso é o mais importante de tudo.

Por isso, como dizia o Torres antes do jogo com a Alemanha, em 85, eu digo o que ele disse e ficou para a história: "deixem-me sonhar"!

Sim, deixem-me sonhar, deixem-nos sonhar a todos, porque temos direito a todos os sonhos este ano.

publicado às 11:59

Blatter vai recandidatar-se à presidência da FIFA, e provavelmente vai vencer.

Os líderes da FIFA têm tendência a eternizar-se no cargo, como se aquilo fosse um posto vitalício.

Por piores que sejam, lá continuam, apesar dos disparates, das péssimas decisões, das suspeitas de corrupção.

A FIFA é uma organização paradoxal: tem um produto espantoso (o Mundial, de quatro em quatro anos), mas é um negócio muito duvidoso.

Hoje, começa mais um Mundial, no Brasil, mas todos temem que as coisas se descontrolem.

Todos, menos a FIFA e o Sr. Blatter.

Ganhe quem ganhar, morra quem morrer, e mesmo que se passe uma revolução nas ruas brasileiras, a FIFA já ganhou o que havia a ganhar.

Receitas de televisão chorudas, contratos de patrocínio fantásticos, sponsors que pagam muito, e mesmo uma parte do preço dos bilhetes, tudo vai para os bolsos da FIFA.

Melhor negócio não há: as receitas são para a FIFA, os custos são para os países organizadores e para os jogadores, que são quem joga e gasta energias.

E, se alguma coisa falhar, a culpa será obviamente do Brasil, que é gente pouco dada ao trabalho, e muito duvidosa.

Os estádios atrasaram? A culpa é do Brasil.

Os aeroportos não estão preparados? A culpa é do Brasil.

Os bilhetes não esgotaram? A culpa é do Brasil.

O sr. Blatter vai apenas amealhar os milhões para a sua organização, e o resto, se correr mal, é culpa do Brasil.

E o Qatar, pergunta-se, é culpa do Brasil?

A FIFA entregou ao Qatar o Mundial de 2022, e já corre para aí muita tinta.

Ao que parece, houve dinheiro à séria a untar as mãos de quem decidiu jogar um Mundial no Verão no Qatar, com 45 graus de calor.

Culpa do Sr. Blatter? Nada disso, culpa de um comité, talvez do Platini, quem sabe do Sarkozy...

O sr. Blatter é inimputável, diz disparates, faz disparates, mas tudo continuará na mesma.

The show must go on... 

publicado às 11:08

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Sobre o autor

Domingos Amaral é professor de Economia dos Desportos (Sports Economics) na Universidade Católica Portuguesa. É também jornalista e escritor e tem o blog O Diário de Domingos Amaral.

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