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O Benfica tem uma disfunção motivacional perigosa.

O presidente delira com a Champions e o melhor plantel dos últimos 30 anos, e na Luz a equipa não consegue ganhar ao penúltimo!

A exibição contra o Belenenses foi confrangedora.

Vencendo, o Benfica podia manter a pressão sobre o FC Porto e o Sporting.

Não o conseguiu, e nem a evidência de que o golo do empate do Belenenses foi ilegal iliba a equipa.

Não se compreende o que se passa, os jogadores parecem desmotivados, e alguns andam com a cabeça na lua. 

Assim ninguém será campeão.

Mas o problema parece-me mais profundo, e a entrevista de Luís Filipe Vieira, de terça-feira à CMTV, foi um sinal disso.

Não se compreende que Vieira venha dizer que o Benfica tenha o melhor plantel dos últimos 30 anos.

Isso é no papel, sr. presidente! Dizê-lo é um erro.

Quando dizemos que os jogadores são muito bons, eles ficam convencidos disso, e baixam a intensidade.

Além disso, subimos as expectativas dos sócios e dos apoiantes, para níveis altíssimos e insustentáveis.

A última vez que Vieira falou no melhor plantel de sempre, e Jesus disse que tinha de ganhar a Liga dos Campeões, o Benfica teve o seu pior ano dos últimos quatro.

Esta época, pelos vistos, o delírio voltou a atacar as lideranças da Luz.

Para quê falar em vitórias na Champions, quando a probabilidade de isso acontecer é mínima?

O que pensaríamos nós se o presidente do Zenit, do Shaktar ou do Arsenal, dissesse que queria ganhar a Champions?

Claro que sorriríamos, e pensaríamos que não estava bom da cabeça.

Ora, porque cria Vieira essa ilusão perigosa em todos, sócios e jogadores?

Não percebe o presidente do Benfica que a probabilidade de um clube português chegar à final da Champions é mínima?

Coisas destas, de tão irrealistas, não motivam ninguém, apenas causam ilusões tontas.

E depois há o choque traumático com a realidade: um clube que quer chegar à final da Champions e tem o melhor plantel dos últimos 30 anos, não consegue vencer em sua casa o Belenenses, penúltimo classificado da Liga!

Há uma disfunção motivacional claríssima no Benfica: Vieira diz que os jogadores são tão bons, que eles se tornam convencidos, blasés, e depois não conseguem ganhar jogos fáceis.

O Benfica não tem fúria de vencer, não a Champions, mas o próximo jogo, é esse o problema.

Vive a pensar em fantasias distantes em vez de descer à terra, e lutar, todas as semanas, como um louco que quer vencer tudo.

Assim, não se vai lá.

O futebol é vencer no dia a dia, não é alimentar quimeras improváveis.

E no dia a dia, as coisas estão fracas. 

publicado às 11:02

Há uns meses atrás, Jorge Jesus estava nas ruas da amargura.

Tinha perdido o campeonato, e ajoelhado no estádio do Dragão, impotente para travar o FC Porto.

Tinha chorado no Jamor, por ter perdido a Taça contra o Guimarães.

E, ainda por cima, tinha sido enxovalhado por Cardozo, mostrando que não tinha mão nos jogadores.

Em suma, era um "looser", um homem a quem ninguém dava futuro.

Porém, de repente, à medida que o Benfica tem vindo a melhorar e a ganhar jogos, Jesus tem sido transformado num perigosíssimo manipulador de árbitros, e num arruaceiro que falta ao respeito à polícia!

Quem tenha ouvido o treinador do FC Porto, Paulo Fonseca, que defendeu que os empates de FC Porto e Sporting se deveram a erros de arbitragem que só existiram devido à maliciosa "estratégia de Jorge Jesus", não terá dúvidas.

Para Paulo Fonseca, Jesus é Deus, pois é omnipotente, consegue mandar em todos (nos árbitros e até na polícia); e omnipresente, conseguindo ganhar em três campos ao mesmo tempo: Alvalade, Amoreira e Guimarães.

Mas, há mais. Mal se viram as imagens de uma confusão no relvado de Guimarães, lá vieram muitos acusar Jesus de ter "agredido" a polícia! Crime, berram eles! Castigo e já, berram eles! 

Acho que devíamos ter um pouco mais de lucidez, pois transformar Jesus num exterminador implacável que ainda por cima dá "tau-tau" na polícia, é um manifesto exagero.

A situação em Guimarães descontrolou-se, é verdade, e Jesus cometeu actos incorrectos, mas houve mais coisas que correram mal.

Primeiro, a segurança falhou, deixando entrar adeptos para dentro do campo.

Segundo, na entrada dos adeptos não havia qualquer intenção violenta ou maligna. Eram apenas jovens eufóricos com a vitória, que queriam pedir as camisolas dos seus ídolos, os jogadores do Benfica.

Por isso, e em terceiro lugar, parece-me que a avaliação que a polícia e a segurança fizeram da gravidade da situação foi exagerada.

Não me parece necessário usar tanta força contra dois ou três rapazes que só querem abraçar os seus jogadores.

Acho que houve algum excesso de zelo da polícia, talvez não fossem necessários cinco matulões para neutralizar um jovem, nem talvez fosse necessário colocar joelhos nas costas ou dobrar braços.

Em quarto lugar, acho que Jorge Jesus teve uma reação semelhante aquela que muitos de nós temos quando vemos excesso de força da polícia sobre alguém. Normalmente, isso incomoda as pessoas, que tentam pedir à polícia para não ser tão dura.

Jesus deu mais um passo, e fez aquilo que muitos fazem quando há uma briga: tentou separar os intervenientes.

Tal como os professores tentam separar os alunos à bulha no recreio, ou como os amigos tentam separar alguém numa rixa de bar, nessa tentativa há que fazer algum esforço físico, e isso passou-se também com Jorge Jesus.

Foi incorreto? Sim, foi, pois não se deve fazer isso quando uma das partes é um agente da autoridade.

Contudo, não me parece que tenha existido qualquer agressão, ou tentativa de agressão. O que houve foi excesso de empolgamento na tentativa de separação.

É claro que é compreensível a excitação acusatória em que ficaram os adversários do Benfica. Se o castigo a Jesus neutralizar o treinador do Benfica algum tempo, isso é um bónus excelente para os adversários do Benfica.

Mas, também não vale a pena exagerar. Uma incorreção que devia ter sido evitada, não é o mesmo que uma agressão.

Quanto à "manipulação de árbitros" de que fala o treinador do FC Porto, é mais do mesmo.

Em Portugal, quem perde pontos, arranja sempre teorias da conspiração para justificar os seus fracassos.

Porém, talvez devessemos dar mérito a quem o teve. O Estoril fez um belo jogo, causou imensos problemas ao FC Porto e mereceu empatar.

O futebol é bem mais simples do que as pessoas pensam.

Quem joga bem, normalmente é recompensado, e isso passou-se com o Estoril, e já agora, com o Rio Ave, que também jogou bastante bem em Alvalade.  

publicado às 10:45

Finalmente, Cristiano Ronaldo conseguiu o que desejava, ser o futebolista mais bem pago do mundo!

Irá ganhar cerca de 17 milhões de euros por ano, incluindo o vencimento, os bónus e contratos de imagem associados ao Real Madrid.

A renovação do contrato com o Real Madrid, não sendo uma surpresa, vem colocar um ponto final na especulação que começara há cerca de um ano, quando Cristiano se revelara "triste", alegamente porque se sentia mal pago.

Em finais de 2012, havia um fundo de razão no que ele dizia, especialmente se comparássemos o seu salário com o dos jogadores que, naquela altura, eram os mais bem pagos do mundo.

Há um ano, a lista era encabeçada por Eto´o, a quem o Anzhi pagava 20 milhões de euros para jogar nos confins da Rússia.

Depois, vinham Ibrahimovic, do PSG, que levava para casa 14,5 milhões por ano; Rooney, que no United recebia 13,5 milhões; Yaya Touré, do City, com 13,5 milhões e, do mesmo City, Kun Aguero, que recebia 12,5 milhões.

O que espantava na lista dos 10 mais bem pagos, é que aqueles que todos reconheciam como os dois melhores do mundo, Messi e Ronaldo, estavam apenas na 9ª e 10ª posição, Messi ganhava 10,5 milhões, e Ronaldo 10 milhões.

A "tristeza" de Ronaldo tinha razão de ser, pois ele merecia mais, tal como Messi.

Contudo, este ano muita coisa mudou na lista dos 10 mais bem pagos. 

Eto´o desapareceu da lista, com a decomposição da equipa do Anzhi; Neymar e Falcão subiram a grande velocidade, entrando no "top ten", bem como Cavani; os três com melhorias salariais fantásticas, graças às transferências em que estiveram envolvidos.

Por fim, e mais relevante ainda, tanto Messi como Ronaldo renegociaram os seus salários com Barcelona e Real Madrid e subiram finalmente para o topo da lista. 

As revelações de "tristeza" pela parte de Ronaldo, bem como as declarações onde ele dizia que "gostava de acabar a carreira no Manchester United", foram pois parte integrante da sua "estratégia de renegociação" do contrato com o Real.

Uma estratégia que foi eficaz e inteligente, e que conduziu a um resultado justo, pois o jogador consegue resultados fantásticos, nomeadamente em golos, que só Messi consegue superar. 

Estarem os dois no topo da lista é uma situação mais "normal", ao contrário da anomalia que existia o ano passado.

E quem está então na lista dos 10 mais bem pagos do mundo?

Com a informação que consegui obter, em vários sites e na imprensa desportiva, eis os 10 salários mais elevados neste momento:

 

1º Cristiano Ronaldo, Real Madrid, 17 milhões de euros

2º Leonel Messi, Barcelona, 16 milhões de euros

3º Neymar, Barcelona, 15 milhões de euros*

4º Ibrahimovic, Paris Saint-German, 14,5 milhões de euros

5º Falcão, Monaco, 14 milhões de euros

6º Rooney, Manchester United, 13,5 milhões de euros

7º Yaya Touré, Manchester City, 13 milhões de euros

8º Kun Aguero, Manchester City, 12,5 milhões de euros

9º Torres, Chelsea, 10,8 milhões de euros

10º Cavani, Paris Saint-German, 10 milhões de euros

 

* Oficialmente, Neymar apenas ganha 7 milhões de euros por ano, no entanto existe um contrato paralelo, assinado entre o pai de Neymar e o clube da Catalunha, com pagamentos no valor de 40 milhões de euros ao longo de cinco anos, e que no fundo é um salário pago a Neymar por outras vias, o que aumenta o seu salário anual em cerca de 8 milhões de euros, e sobe o total para 15 milhões. 

 

 

publicado às 12:00

Já há vários anos, segundo os relatórios da Deloitte, que o Real Madrid é o clube de futebol que mais factura no mundo.

Em 2010, ia nos 438 milhões, e dois anos mais tarde, em 2012, já ia em 500 milhões de euros de receitas.

Este ano, ainda não saiu o relatório da Deloitte relativo à época 2012-2013, mas o Finantial Times já veio dizer que o Real atingiu um novo máximo, de 520,9 milhões de euros em receitas, somando bilhetes, patrocínios, direitos televisivos e outras receitas. 

Ainda segundo o mesmo jornal, o lucro líquido do clube subiu 52% em relação ao ano anterior, embora a época desportiva tenha sido decepcionante, pois Mourinho só ganhou a supertaça de Espanha, mas não venceu nem campeonato, nem taças nacionais, nem competições europeias. 

No entanto, o que mais me espantou foi a informação de que a dívida do Real Madrid está em 90,6 milhões de euros, o que é um valor muito baixo para um clube tão grande.

Para termos um termo de compração, a dívida de curto prazo do Benfica está quase nos 200 milhões de euros; a do FC Porto, anda pelos 70 milhões; e a do Sporting já está nos 100 milhões. 

Mesmo admitindo que o maior clube do mundo não precisa de rácios de endividamento tão altos como os nossos três grandes, 90 milhões parece-me um valor muito baixo, para quem contrata jogadores por valores tão elevados.

Em 2009, Ronaldo custou mais de 90 milhões, que foram todos financiados na banca, que até teve graves problemas com isso.

Os alegados 100 milhões que agora o Real pagou por Bale, vieram certamente do mesmo sector, embora não do mesmo banco.

É certo que o Real ganha fortunas colossais com os direitos televisivos (cerca de 140 milhões de euros só pelos jogos em casa do campeonato), e também se sabe que o novo patrocinador, a Emirates Airline, vai pagar cerca de 30 milhões por ano para aparecer nas camisolas.

Mas, as contas do Real Madrid devem ser examinadas com cuidado.

O clube, tal como o Barcelona, não é uma sociedade comercial, mas sim uma cooperativa, o que lhe permite não ter fins lucrativos, pagar menos impostos, e ter uma contabilidade diferente. 

Além disso, o Real ainda beneficia grandemente do acordo que fez com a câmara de Madrid, que lhe cedeu terrenos e permitiu a realização de ganhos extraordinários durante mais de uma década.

Todas estas razões levam-me a ser cuidadoso e desconfiado das contas do Real, e nomeadamente os números da dívida parecem-me demasiado baixos para serem verdadeiros.

Certamente por todas estas causas, há clubes que já se queixaram à Comissão Europeia. Foi o caso do Manchester United, que considera existir "concorrência desleal", pois Real e Barcelona beneficiam de benesses que os outros europeus não beneficiam.

A Comissão está a investigar, veremos o que decide. 

publicado às 11:37

Em Portugal, até agora só existia um modelo económico para gerir os três grandes: o modelo "import-export".

Inventado pelo FC Porto, e nos últimos anos seguido por Benfica e Sporting, o modelo assenta em alguns princípios.

Primeiro, é preciso comprar bem e o mais barato possível, em qualquer lugar do mundo onde existam jogadores talentosos.

Depois, é preciso pagar bem, para os jogadores se sentirem motivados e se empenharem.

Em terceiro lugar, é preciso jogar bem, ganhar títulos e ter presenças honrosas nos palcos europeus, que valorizam os jogadores.

Por fim, é preciso vender bem, para grandes clubes europeus e por muitos milhões de euros.

Se isto se fizer com competência e regularidade, há um ciclo virtuoso que nasce, e se mantém; e o modelo renova-se todos os anos.

Porém, este é um modelo que exige muito dinheiro, e por isso muito endividamento.

FC Porto e Benfica, por exemplo, gastam quase 50 milhões de euros por ano só em salários e prémios a jogadores.

Além disso, é um modelo de alto risco, pois só um dos clubes pode ser campeão nacional, e só dois têm entrada directa na Champions.

Com um risco tão elevado, os desastres são portanto muito fáceis de acontecer, como se viu no Sporting.

Godinho Lopes, logo que chegou à presidência, quis imitar FC Porto e Benfica.

A despesa salarial do Sporting trepou de 29,6 milhões em 2010-2011 para 42,5 milhões em 2011-2012, um aumento de 43% só numa temporada! 

E gastou fortunas em novas e caras contratações, algumas de qualidade mais do que duvidosa.

Ao fazê-lo, aumentou drasticamente o risco do negócio, e os resultados nunca surgiram.

Despediu o treinador Domingos, depois despediu o treinador Sá Pinto, e depois Vercauteren, numa instabilidade que matou o modelo de negócio, e afastou os sócios.

Os resultados da Sporting SAD*, agora publicados, são dramáticos, e mostram os perigos do modelo "import-export".

O Sporting gastou 41,6 milhões em despesas com o pessoal, (uma minúscula quebra face ao ano anterior), e aumentou o endividamento de curto prazo de 36 milhões para uns astronómicos 101,3 milhões de euros!

As mais-valias com as vendas de jogadores não foram nada do outro mundo (até Junho), apenas 11,8 milhões de euros em vendas reais, mais um pouco de cedências ao Sporting Portugal Fund.

Mas, isso nem era o mais grave.

Aos poucos o Sporting vinha a perder importantes parcelas dos direitos desportivos dos jogadores, entregando os passes para pagar dívidas, e em apenas uma época, o valor líquido do plantel desceu de 40,2 milhões para 28,2 milhões!

Para somar a este desastre, um outro se verificou no lado das receitas. 

Somando as quotizações com a bilheteira, o clube ficou-se pelos 6,5 milhões de euros, o pior resultado em 12 anos!

Nos patrocínios e no merchandising as coisas não foram dramáticas, e nos direitos televisivos o Sporting facturou mais do que o Benfica, chegando aos 11,5 milhões, enquanto na Luz não se ultrapassou os 8 milhões.

Porém, os prémios da UEFA foram uma miséria, apenas 1,9 milhões de euros, o valor mais baixo desde 2004!

Os resultados finais não podiam por isso ser bons.

Pelo segundo ano consecutivo, o Sporting apresentou prejuízos acima de 40 milhões de euros, ficando-se este ano pelos 43,8, quando na época passada chegara aos 45,9 milhões de euros. 

Mais grave do que isso, os capitais próprios do clube agravaram-se, e já estão em 119,4 milhões de euros negativos!

É evidentemente, um clube em falência técnica, e só uma duradoura e consistente revolução o pode levantar do chão. 

Bruno de Carvalho, o novo presidente, parece ter compreendido isso, e parece caminhar na direcção do outro modelo possível de gestão de um grande, um modelo que na verdade nunca foi tentado em Portugal.

Chamemos a esse modelo "formation to export".

No fundo, trata-se de basear a equipa nos talentos saídos da formação, pagando-lhes salários mais baixos do que se pagava aos craques importados, e depois ter um bom treinador que possa construir uma equipa competitiva.

O fim do modelo é idêntico ao outro: vender bem os jovens talentos.

Comparando este modelo com o "import-export", vemos que o "formation to export" precisa de menos compras, menos salários e menos dívidas.

É óbvio que também tem menos possibilidades de vencer campeonatos, mas com o tempo, a dois ou três anos, pode consegui-lo.

Foi isso que se passou com o Borussia Dortmund.

Primeiro, bateu no fundo; depois, apostou nos miúdos, e ao fim de três anos foi campeão da Alemanha, em duas épocas consecutivas e o ano passado chegou à final da Champions.

No caso do Sporting, este era o único caminho.

Não havendo no horizonte um milionário russo ou árabe para comprar o clube, como nos casos de City, Mónaco, Chelsea ou PSG, só se podia ir para o "formation to export".

É claro que, na fase de transição, há muitos espinhos.

Há muito jogador para dispensar; há muitos funcionários para despedir, há que romper com muitos interesses instalados.

Há também uma complexa reestruturação financeira para executar, e a banca aperta com as suas obrigações, mesmo que esteja disponível para ajudar.

Há igualmente que transformar dívidas em capital, e meter no barco novos aliados, como os angolanos.

E tudo isso tem riscos, pois no estado em que está, o Sporting dificilmente cumpre os requisitos do "fair play" da UEFA, e por isso esta transformação tem de ser rápida, se o clube quiser voltar às competições já no próximo ano.

Mas, os primeiros frutos já são visíveis.

Não só a equipa começou bem o campeonato, empolgando os adeptos, o que é essencial para as receitas de bilheteira subirem; como vendeu bem dois jovens talentosos, Ilori e Bruma, conseguindo importantes mais-valias.

Como diz o velho provérbio chinês, "uma jornada de mil passos começa com o primeiro". 

Esperemos que Bruno Carvalho não mude de ideias a meio, pois para o "formation to export" resultar é preciso ser muito coerente e persistente. 

 

* Relatório de Contas da Sporting SAD, 2012-2013

publicado às 11:24

O Benfica, nos últimos anos, vinha aperfeiçoando o seu modelo económico. 

Comprar bem, pagar bem aos jogadores, conseguir bons resultados sobretudo na Europa, e depois vender muito bem, para grandes clubes. 

Este modelo, que é o do FC Porto há mais de quinze anos, começou a funcionar na Luz com a chegada de Jorge Jesus.

Antes, as mais-valias com as vendas de jogadores eram fracas.

2006-2007 foi o único ano que o Benfica superou os 20 milhões de euros em mais-valias com a venda de jogadores, atingindo os 24,1.*

Nos outros anos, os resultados eram modestos, entre os 7 e os 10 milhões.

A chegada de Jesus mudou tudo.

Durante três anos o Benfica conseguiu mais-valias acima dos 25 milhões de euros por ano.

Em duas épocas, 2010-2011 e 2011-2012, conseguiu mesmo ultrapassar o FC Porto, obtendo 37,1 e 30,6 milhões de euros, quando os azuis se ficaram pelos 31,8 ou 29,1 milhões.

Porém, ao quarto ano de Jesus, o modelo "import-export" falhou, e o Benfica vai cair muito nessa receita, pois não conseguiu nenhuma grande venda até ao fecho dos mercados.

Embora as vendas de Witsel e Javi Garcia ainda contem no ano que terminou, época 2012-2013, a verdade é que o Verão foi decepcionante.

Apenas há a registar a saída de Melgarejo, por 5 milhões, o resto são trocos e empréstimos.

O objetivo que a imprensa anunciava, de 75 milhões em vendas, não passou de uma miragem.

Cardozo, que todos acreditavam ir sair, ficou.

Garay, que muitos colocavam já a ver casas em Manchester a caminho do United, também ficou.

Gaitan, como eu sempre previ, não teve ofertas decentes para sair. 

Restavam Matic e Salvio, mas o primeiro sempre disse que não se queria ir embora; e o segundo, que talvez fosse sair, lesionou-se à última hora, e vai ficar parado seis meses com uma lesão grave. 

Os cinco vão ficar na Luz, e portanto não há vendas relevantes. 

No entanto, a primeira parte do modelo continuou a funcionar.

O Benfica comprou muito: os quatro sérvios, mais alguns defesas e avançados.

Além disso, continua a pagar bem aos seus jogadores, apesar de ter aliviado a folha salarial com algumas saídas, sobretudo a de Aimar.

E, também jogou bem, na Europa e em Portugal, classificando-se para a Champions e depois estando presente na final da Liga Europa.

Do modelo económico, só falhou a parte final.

O Benfica compra muito; paga muito; joga muito; mas, no fim não vendeu muito.

Porquê?

O mercado de transferências tem razões que a razão desconhece; mas o relevante é que, não funcionando o modelo "import-export", só se aguenta os custos altos com mais dívida.

É esse o resultado do falhanço deste Verão, que chegou a ser ligeiramente humilhante, face aos números do FC Porto, e até do Sporting, que vendeu Bruma e Ilori.  

Sem vendas, sem "exportações", só há um caminho, mais e mais dívida.

E isso é preocupante. 

 

* Todos os números são retirados dos relatórios de contas dos clubes.

 

publicado às 12:33

O regresso do Sporting às boas exibições, que leva as pessoas ao estádio, é um importante sinal.

Nos últimos três anos, devido às más épocas da equipa, o Sporting nunca conseguiu facturar muito nas bilheteiras.

Em 2010-2011, conseguiu 10,6 milhões de euros no total; em 2011-2012, chegou aos 11,4; mas no ano passado deverá ter caído para a casa do 7 milhões, e isto já a contar com as quotizações*. 

Longe, muito longe do Benfica, que desde que Jesus chegou ao clube, factura 30 milhões no seu estádio.

Mesmo assim, com exibições decepcionantes, o Sporting não andou muito longe do FC Porto, que em 2010-2011 e 2011-2012 conseguiu 11,6 milhões de euros; e no ano passado também desceu muito, não devendo chegar aos 8 milhões de euros. 

E isto em 3 épocas em que o FC Porto foi campeão e o Sporting era confrangedor.



A verdade é que o potencial de receitas no estádio do Sporting parece superior ao do FC Porto.

O Sporting tem mais sócios e simpatizantes, e eles têm capacidades económicas elevadas.

Repare-se que, mesmo numa década em que o Sporting não foi campeão, existiram pelo menos 3 anos em que facturou mais no seu estádio que os azuis no Dragão.

Em 2004-2005, o Sporting chegou aos 15, 6 milhões de euros, enquanto o FC Porto, que teve um ano atípico, um pós-Mourinho conturbado, se ficou pelos 13,4 milhões de euros.

A história voltou a repetir-se mais duas vezes.

Em 2007-2008, o Sporting treinado por Paulo Bento, atingiu a sua mais alta faturação de sempre no estádio, chegando aos 16,4 milhões, e o FC Porto de Jesualdo não conseguiu melhor que 14,5 milhões, apesar de ter sido campeão.

Em 2009-2010, o Sporting voltou a ultrapassar o FC Porto em receitas de bilheteiras, obtendo 12,8 milhões de euros contra os 12,3 dos azuis.

E isto apesar do Benfica ter sido campeão, e do Sporting ter ficado em 4º lugar, atrás do FC Porto, que foi 3º.

 

Assim, parece-me um excelente sinal para o Sporting que o ano esteja a começar com grandes casas, como contra o Arouca e sobretudo contra o Benfica.

Se a equipa continuar a manter a bitola alta deste início de campeonato, é possível o Sporting quase dobrar a sua receita em Alvalade, em relação ao ano passado, mesmo sem jogos europeus.

Com Alvalade cheia, um importante passo para a recuperação financeira do clube está a ser dado.

Um estádio eufórico e lotado gera muita receita, e muita receita equilibra as contas e permite abater a dívida.

É assim, e com boas vendas de jogadores (de que falarei num próximo post), que se recupera o clube.

 

* Os números citados são retirados dos relatórios de contas dos clubes.

 

publicado às 12:16


Sobre o autor

Domingos Amaral é professor de Economia dos Desportos (Sports Economics) na Universidade Católica Portuguesa. É também jornalista e escritor e tem o blog O Diário de Domingos Amaral.

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